Entregadores de São Carlos buscam criar associação após protestos

Entregadores de São Carlos buscam criar associação após protestos

17/03/2021 Off Por Equipe Tribuna

Há duas semanas os entregadores da cidade de São Carlos se manifestaram em frente a Câmara Municipal. Seus protestos foram pela mobilização do Poder Municipal em relação à entrada de entregadores de Araraquara, além daqueles já reportados pelo Tribuna em dezembro, como a construção de uma estrutura mínima para descanso, banheiro e vagas para os entregadores.

 

Sobre o lockdown em Araraquara

Depois de detectada a circulação da cepa de Manaus na cidade, do dia 21 de fevereiro em diante, Araraquara viveu o lockdown verdadeiro e efetivo, com fechamento total de vários tipos de serviços e comércios. Hoje, os araraquarenses colhem os frutos da medida preventiva: “tivemos redução de casos de mais de 43%, mais de 28% de queda nas internações e de 58% nos que estão aguardando resultados ou que a doença não agravou. As amostras positivadas remetidas aos laboratórios caíram 62%”, declarou o prefeito Edinho (PT).

Araraquara é a prova brasileira de que o distanciamento social e o lockdown são as medidas mais efetivas para prevenção contra a covid-19. Apesar dos problemas econômicos decorrentes dessas medidas, eles são menos desastrosos que o convívio contínuo com o caos sanitário. Aqueles países que se anteciparam na prevenção com medidas de isolamento e fechamento tiveram menor queda no PIB que aqueles que preferiram adotar políticas de isolamento vertical ou esperar que a população se infectasse para ganhar imunidade. Um exemplo assim é o Vietnã que agiu rápido na contenção da pandemia teve 3% de crescimento no PIB e acumula 0,36 mortes por milhão de habitantes, já o Brasil encolheu 4,1% do PIB e acumula 1.303,64 mortes por milhão de habitantes (Folha de São Paulo e Our World in Data).

 

Os desafios dos entregadores de São Carlos

Com o lockdown, muitos entregadores araraquarenses vieram para São Carlos trabalhar. Em entrevista ao Tribuna os entregadores são-carlenses Wallace Paulino e Christian Nascimento comentaram temer que a cepa de Manaus se espalhasse rapidamente por aqui, uma vez que havia um fluxo grande de trabalhadores da cidade vizinha. “Eles podem vir trabalhar aqui, assim como alguns entregadores são-carlenses iam pra Araraquara. A nossa preocupação maior é que a nossa cidade tenha que ficar em lockdown e que algum entregador pegue o vírus e tenha que parar de trabalhar”, explicou Christian.

Entendendo a complexidade da situação, cobraram ao Poder Municipal medidas contra o espalhamento do vírus. Após à manifestação, Christian e Luís representaram os entregadores são-carlenses em reunião com o vereador Rodson (PSDB) que se comprometeu com suas demandas. O grupo agora aguarda alguma medida efetiva por parte do parlamentar.

“Conversamos sobre quatro pontos com o vereador: o primeiro foi sobre fazer uma fiscalização para evitar que o vírus (a cepa de Manaus identificada em Araraquara) se espalhe por aqui. O segundo ponto foi fundamental, porque ficamos o dia inteiro na rua, não temos lugares adequados para descansar, não temos banheiro, não temos bebedouro. Terceiro ponto é a necessidade de ter mais vagas de estacionamento para os motoboys. E o quarto é para que o município dê maior atenção para a categoria”, explica Christian Nascimento a reunião com o vereador.

E conclui categoricamente: “Tudo que acontece na rua nós estamos de olho. Já vai dar um ano dessa pandemia e é a primeira vez que a gente realmente se manifesta. A gente tá na rua e tamo de olho.”

Uma das antigas reivindicações dos entregadores são-carlenses seria bem-vinda tanto para melhorar as condições de trabalho da categoria como para evitar contágio: um espaço de descanso adequado com acesso à energia, água potável e banheiros.

Do caos à organização

Já se vai um ano – e contando – convivendo com a pandemia do Coronavírus e os entregadores não descansaram um dia sequer. Reconhecer seu papel fundamental para o distanciamento social, com medidas concretas e atendendo às suas reivindicações, é o mínimo que se pode esperar do Poder Municipal.

Apesar da dificuldade que a categoria encontra em ser ouvida pelos poderes públicos e pela população, os entregadores reconhecem que ganham força com sua unidade e que a categoria está mais unida para resolver os problemas que enfrenta. Agora buscam organizar uma Associação para a categoria.

Wallace Paulino dá a linha de agora: “Em cima daquilo que a gente pensava, agora já pensamos maior com a ajuda dos companheiros que se juntaram. Agora podemos nos organizar e fazer a associação. Precisamos agora agregar os amigos que tem a mesma visão que nós pra juntar força e lá na frente a gente conquistar os objetivos que temos agora.”


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