Trabalhadoras da limpeza da USP são dispensadas sem direitos trabalhistas
20/06/2023Trabalhadoras terceirizadas responsáveis pela limpeza da USP em São Carlos foram dispensadas em abril por infração de direitos de trabalho da empresa Safe Vagner Borges. O caso ocorreu logo após uma greve de 24 horas das trabalhadoras, reivindicando o pagamento de salários que já acumulavam atraso de 10 dias.
No dia 3 de abril, a Universidade de São Paulo (USP) rescindiu o contrato que tinha com a empresa terceirizada responsável pela limpeza dos campi 1 e 2 de São Carlos. Assim, todas as 115 funcionárias que trabalhavam no setor ficaram sem emprego. A interrupção do contrato da universidade com a empresa Safe Vagner Borges ocorreu após uma infração grave de direitos trabalhistas por parte da empresa. No caso, a empresa atrasou o pagamento do salário às trabalhadoras, impedindo a continuidade do contrato.
A universidade passou uma semana sem nenhuma funcionária no setor de limpeza. Depois desse período, a USP fechou contrato emergencial de 1 mês, prorrogado para 2 meses, para recontratar as funcionárias. Entretanto, esse contrato foi para contratar apenas entre 25% e 30% do total das funcionárias originais. Isso resultou em mais de 70% do contingente inicial sem emprego. Além disso, todas as funcionárias estão até hoje com dois salários atrasados, sem pagamento da multa de atraso dos salários, sem a multa do FGTS, sem a rescisão, com férias e 13º atrasados e sem a multa do aviso prévio (que não ocorreu). Ainda, muitas delas estão sem a baixa na carteira de trabalho e sem o FGTS.
Após atraso no aluguel, risco de despejo e dificuldades para pagar as despesas, o Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação (SIEMACO) convenceu a maioria das trabalhadoras a assinar um acordo com a USP. Segundo o acordo, a universidade pagará apenas o “salário referente ao mês de abril/2023, multa diária pelo atraso salarial correspondente ao mês de março/2023 e verbas rescisórias – saldo salarial, férias vencidas e seu terço e décimo terceiro salário proporcional, com a respectiva homologação do termo de rescisão do contrato de trabalho pela entidade sindical”. Esse pagamento será feito com a verba que a USP repassava à empresa terceirizada após a retenção iniciada em abril, quando houve o atraso dos salários.
Onda de privatizações na USP
Esse episódio soma a uma série de privatizações promovidas pela USP que resultaram na precarização do ambiente universitário e das condições de trabalho. Em 2016 já havia ocorrido um corte de 52% do corpo de funcionárias, o que gerou sobrecarga de trabalho para as que ficaram. Além disso, eram frequentes denúncias de desvios de função, atrasos nos vales refeição e alimentação, falta de pagamento de insalubridade e assédio moral no trabalho. A terceirização também prejudicou gravemente os setores de segurança dos campi, restaurante universitário e serviços de transporte entre campi em São Carlos.
Vale ressaltar que o serviço de limpeza, historicamente marginalizado no Brasil, é em sua maioria feito por mulheres pobres, negras e pardas. Isso reforça as dinâmicas de opressão de classe, raça e gênero, características de uma ex-colônia subordinada à divisão internacional do trabalho. Essas questões manifestam-se claramente na situação das trabalhadoras da limpeza na USP de São Carlos.
Foto de capa: USP Imagens