Nenhuma a menos! Por justiça à Mãe Bernadete e pela titulação das terras quilombolas

Nenhuma a menos! Por justiça à Mãe Bernadete e pela titulação das terras quilombolas

07/09/2023 Off Por Colaborador/a

O assassinato de Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho/BA, é chocante e evidencia como o governo de conciliação de classes e o neoliberalismo “progressista”, encabeçados pelo PT, são frágeis e insuficiente.

Por Ana Karen

O assassinato de Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho/BA, é chocante e evidencia como o governo de conciliação de classes e o neoliberalismo “progressista”, encabeçados pelo PT, são frágeis e insuficientes.

Não basta figurar como um governo representativo, que abarca a luta das mulheres, povos originários, pessoas negras e LGBTI+, se mudanças estruturais, como a concessão da posse de terra aos povos remanescentes de quilombos e a criação de mecanismos públicos de saúde, educação e segurança social, não são garantidos nesses territórios.

Como destacou o camarada Gabriel Colombo, “garantem o reconhecimento dos quilombos sem conceder os títulos dos territórios, porque não enfrentam os interesses do capital nas terras”. Apenas 211 ( 7%), das 2926 comunidades quilombolas reconhecidas pelo governo federal têm os territórios titulados.

Mãe Bernadete, reconhecida pelo seu trabalho como defensora dos direitos humanos, fez uma série de denúncias referentes ao assassinato de seu filho, Binho do Quilombo, em 2017, e também vinha sofrendo um conjunto de ameaças. Esse caso não é pontual e está diretamente relacionado ao direito aos territórios quilombolas, reconhecidos pelos seus processos históricos de ocupação e lutas. O Quilombo Rio dos Macacos, o Quingoma, os quilombos da Chapada Diamantina e os quilombos em torno de Feira de Santana sofrem com ameaças e cercos parecidos, na Bahia. Os interesses são claros: corporativismo e elitismo dos oficiais da Marinha; posse da terra por elites locais; expansão dos monopólios da mineração, construção civil e de energia pelo território baiano.

Apesar da ialorixá estar sob medida protetiva, diante dos ataques pessoais sofridos, seu assassinato não foi evitado. Em contraposição, a polícia baiana chamou a atenção ao matar 30 pessoas nas primeiras semanas de agosto, dando continuidade à política racista de extermínio do povo pobre e negro nas periferias.

Não podemos deixar de lembrar que estamos no país onde Marielle Franco foi assassinada, numa clara tentativa de apagamento da sua existência política e onde o racismo religioso é extremamente prevalente, gerando a destruição física e social dos povos de terreiro.

Por justiça a Mãe Bernadete, Marielle Franco e todos/as lutadores/as de nossa classe. Contra toda e qualquer perseguição aos povos quilombolas e povos de terreiro!

A garantia da titulação dos territórios quilombolas na Bahia e em todo Brasil é um direito inalienável das comunidades remanescentes.

Este texto foi originalmente publicado na plataforma “Em Defesa do Comunismo” e é de autoria de Ana Karen, militante do Movimento em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB.