TSC entrevista Vithor Mori, vice-presidente do Grêmio Estudantil do colégio Jesuíno de Arruda

TSC entrevista Vithor Mori, vice-presidente do Grêmio Estudantil do colégio Jesuíno de Arruda

03/05/2023 Off Por Editorial Tribuna São Carlense

No último dia 15 de abril foi realizado mais um ato popular em São Carlos demandando a revogação imediata do Novo Ensino Médio. Estavam presentes estudantes secundaristas, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), membros do Centro Acadêmico Armando Sales de Oliveira (CAASO), vereador Djalma Nery (PSOL) e deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL). A manifestação concentrou-se na Praça Coronel Salles e depois foi em passeata até o Mercado Municipal. Lá os manifestantes fizeram atividades para conscientizar a população sobre a importância de lutar pela revogação do NEM. As atividades incluíram panfletagens e intervenções em semáforos próximos do local da manifestação.

A implantação do Novo Ensino Médio já produz efeitos nocivos nas escolas de São Carlos. No ato, o Tribuna São-Carlense entrevistou Vithor Mori, Vice-Presidente do Grêmio Estudantil do colégio Jesuíno de Arruda para entender melhor a situação dos estudantes secundaristas. Confira abaixo a entrevista.

Vithor afirma que a mudança interfere diretamente no aprendizado dos estudantes: “Tem aulas que a gente não aprende nada. Tecnologia, por exemplo, a gente pode fazer o que a gente quiser. Se quiser fazer coisa de outra matéria, a gente pode. Trabalho atrasado também pode fazer. Porque não tem conteúdo. Isso acaba gerando estresse, os alunos ficam muito cansados porque como eu falei por causa da carga horária que aumenta pra caramba e os alunos que vão fazer o ENEM tão tendo que fazer cursinho por fora. O que já acontecia antes do novo ensino médio ser implementado. Mas agora acontece com muito mais frequência.”

Também segundo Vithor, o Novo Ensino Médio reforça ainda mais as desigualdades de classe, raça e gênero na transição para o ensino superior. Isso porque o aumento de carga horária não permite mais que os alunos, vindos em maioria de famílias de baixa renda, possam conciliar os estudos com o trabalho: “A gente entra na escola duas horas, sai nove horas, a gente não tem essa opção de ou trabalhar ou estudar ou os dois, no caso, porque dava tempo (antes da implantação do NEM). Não, a gente vai ter que o que acontece, os alunos que tem uma carência financeira vão ter que trabalhar, isso é óbvio isso se eles não tiverem que largar a escola né pra trabalhar então eles vão ter que trabalhar e não vão poder focar nos estudos. Quando chegam na escola estão muito cansadas então obviamente não vão fazer nada só vão estar lá pra pegar a presença e conseguir se formar pra entrar no mercado de trabalho. Os alunos que optam e podem estudar vão ter que fazer cursinho e pegar tipo mil vezes pior porque vai ter que estudar coisa da escola no cursinho também, então tipo isso está horrível pra todo o novo ensino médio veio com toda certeza pra fazer que os alunos de baixa renda desistam de estudar.”

Vitor também destacou que a implantação do NEM aumenta a evasão escolar: “Os alunos do terceiro estão muito preocupados, o pessoal que a gente conversa fala que é horrível porque querendo ou não é uma pressão que tem pra eles entrarem numa faculdade. Tanto que ano passado nenhum dos alunos do terceiro entraram na faculdade direto, eles estão fazendo cursinho e estão trabalhando. Nenhum dos alunos passou direto por que que acontece? Os itinerários entraram e a gente não aprendeu nada. Então tipo é uma desmotivação. Eu mesmo não tenho nenhuma motivação pra ir pra escola. Eu estou com muitas faltas porque não tenho nenhum incentivo pra ir pra escola. Não consigo ir pra escola e saber que eu vou ficar desgastado e não aprender nada.”

“A maioria da sala sabe o que é o novo ensino médio. Mas por conta da carga horária da escola ter aumentado tanto e, ao mesmo tempo, eles estarem aprendendo muito menos, estarem desmotivados, estressados e, ainda por cima, tendo que fazer cursinho por fora da escola para tentar passar no vestibular, a gente acha que, por esses motivos, eles não estão aderindo a esse movimento, a essa ideia de que a gente tem que ir às ruas para lutar contra o novo ensino médio. É importante que essa luta não seja só dos estudantes, mas também dos pais desses estudantes. Porque o que o Estado está querendo fazer, e já está fazendo, é o que ele já fazia no passado com os nossos pais, avós e bisavós. É deixar a gente na escola aprendendo português e matemática só para saber ler, escrever e fazer conta, e depois sair do ensino médio para trabalhar em empresas que oferecem salários baixíssimos e sem benefícios essenciais para o trabalhador. Trabalhos assim, completamente precarizados e análogos à escravidão. Então, os pais dos estudantes têm que saber o que é o novo ensino médio, para que ele foi feito e por quem, para então irmos às ruas e lutar pela revogação”.

Fotografia: Gabriel Pinheiro (@gabriel.s.pinheiro)