PIB de 1,2% no primeiro trimestre: crescimento real ou ilusão contábil?

PIB de 1,2% no primeiro trimestre: crescimento real ou ilusão contábil?

24/06/2021 0 Por Colaborador/a

Por Emerson Leal

Recentemente, o IBGE divulgou o PIB alcançado pelo Brasil no primeiro trimestre deste ano. Comparativamente ao quarto trimestre de 2020, houve um crescimento de 1,2% no mesmo. Isso significou uma surpresa para os analistas de mercado, que não esperavam um aumento superior a 0,7%. A questão é: esse ‘crescimento’ foi real ou não passou de uma ilusão contábil? Se foi uma ‘ilusão’, o quê determinou esse ‘crescimento’ do PIB? Vejamos alguns dos argumentos apresentados pelo economista e professor do Departamento de Economia da UnB, José Luis Oreiro, em entrevista ao jornal A Hora do Povo, para chegar à conclusão de que tudo não passou de uma “ilusão contábil”.

 

  1. Óbvio que o governo Bolsonaro soltou rojões com o PIB de 1,2%, prometendo maravilhas: uma suposta retomada do crescimento econômico (por exemplo, um PIB de mais de 4% no segundo trimestre de 2021, imagina ele). Pois bem, na realidade, o que houve foi um crescimento trimestral “muito significativo” do agronegócio e da agropecuária, da ordem de 5,6%, “pela ótica da oferta”. O problema é que, ao mesmo tempo, a indústria de transformação teve uma queda de 0,4%! Tudo somado, o que ocorreu no Brasil foi um crescimento do PIB de “qualidade ruim”, na visão do Prof. Oreiro. Conclusão: houve um aprofundamento da desindustrialização da economia, na medida em que o ‘crescimento’ da indústria não só foi abaixo do crescimento do PIB, como foi negativo, com uma queda de 0,4%, significando que a indústria “perdeu participação no PIB”!
  2. Oreiro chama a atenção também para o fato de que houve, no primeiro trimestre de 2021, um “descompasso entre a oferta e a demanda”, tendo a oferta crescido mais e, o que foi produzido, o foi para “acumular estoques”.Só que esse movimento de recomposição de estoques já foi concluído e não haverá mais um forte movimento para a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) no segundo trimestre de 2021. Conclusão: os especialistas acham que “o PIB do 2º trimestre de 2021 ou vai ser zero, ou muito próximo de zero, ou negativo”!
  1. Dito de outra forma: se não se considerasse o acúmulo de estoques na contabilização da FBCF, veríamos que o PIB, na realidade, deveria recuar 1,6% no primeiro trimestre de 2021, relativamente ao quarto trimestre de 2020, e não avançar na proporção que o governo divulgou. São esses detalhes que Paulo Guedes e o governo Bolsonaro escondem da opinião pública.
  2. O senso crítico do cidadão não alienado deve ter ligado o alarme, ao perceber o descompasso entre o canto de ‘vitória’ do governo Bolsonaro pelo ‘crescimento’ do PIB e a realidade das ruas: o desemprego crescendo, chegando a 15 milhões de pessoas; comércio e empresas quebrando, a miséria aumentando, etc. Afinal, o PIB cresceu fundamentalmente pela venda de commodities (soja, milho, carne, minério de ferro, etc.), que só serve para encher as burras dos grandes agropecuaristas, dos mineradores e das elites do capitalismo gângster, que ainda se divertem sonegando impostos.

            Assim caminha a humanidade!