A Globo, Luciano Huck e o Financial Times

A Globo, Luciano Huck e o Financial Times

21/03/2021 Off Por Colaborador/a

Por Emerson Leal

Fiquei surpreso quando vi uma matéria do Financial Times (FT) com comentários sobre um artigo de Luciano Huck. Interessante é o fato de que as análises do jornalão internacional ocupam um espaço maior que o referido artigo. Toda a matéria, em si, deve ter custado uma fábula. Afinal, por que, de repente e não mais que de repente, o FT se interessaria em dar um destaque monumental às palavras de Huck sobre os descaminhos do governo Bolsonaro, principalmente na área da proteção ambiental e da destruição da floresta amazônica?

  1. Como não nascemos ontem e não acreditamos em Papai Noel, percebemos que motivações político-eleitorais estão por trás de tudo: (a) a Rede Globo encontra-se em palpos de aranha, já que Sérgio Moro – o candidato dos seus sonhos para derrotar Bolsonaro e as esquerdas nas eleições de 2022 – se queimou irreversivelmente diante das denúncias daVaza-Jato e das decisões que o STF vem tomando no sentido de desmascarar os procuradores criminosos da Lava-Jato; (b) diante disso ela (a Globo) tem de parir um candidato competitivo numa realidade bem complicada dentro da direita e de um Centrão sem nomes de peso para derrotar Bolsonaro e o candidato de uma futura (e provável) frente das esquerdas. Luciano Huck é um show-man da TV-Globo que tem “30 milhões de telespectadores” do seu programa semanal e “50 milhões de seguidores nas redes sociais”. Se a Globo conseguir transformá-lo numa pessoa com um nível razoável de visão político-eleitoral, ele passaria a ter potencial para se transformar num candidato competitivo das elites em 2022.

  1. Pois bem, o Financial Times abre sua matéria chamando a atenção para esse fato: “Luciano Huck é um apresentador de TV e empresário brasileiro” que faz críticas contundentes ao desempenho do presidente Bolsonaro tanto nas questões do enfrentamento à pandemia do coronavírus, quanto da destruição da floresta amazônica. E cita o artigo de Huck intitulado “Bolsonaro – do Brasil – precisa se realçar sobre as mudanças climáticas”. Como introdução ao referido artigo, o FT registra que “A popularidade de Bolsonaro despencou, a despeito de ter aprovado um programa de assistência financeira aos pobres”. Contudo – diz o FT – pior que a incapacidade do presidente no enfrentamento da Covid-19 e na condução da economia do País, é “a destruição das proteções ambientais”, sublinhando que “esse é um assunto de importância global (sic!), porque o futuro das mudanças climáticas depende do Brasil”!

  1. Essa foi a ‘senha’ para que Huck entrasse com seu (seu?) programa através do artigo que vem na sequência dos comentários do FT: o Brasil, diz Huck, é “a capital mundial do clima”; “há que ouvir pessoas que trabalham na terra e alistar ambientalistas, empresários, proprietários rurais e grupos indígenaspara a causa”, etc. Critica as invasões de terra, o desmatamento e a mineração predatória. Denuncia o “ecocídio” promovido por Bolsonaro e fala da sintonia com “investidores globais” interessados em ajudar a conter o desmatamento, etc.O rol de propostas maravilhosas é imenso!

  1. Em síntese: o palanque de Luciano Huck já está sendo montado pela Globo. Prova disso é sua (de Huck) assertiva:“Continuo [continua?] focado em reconstruir lideranças competentes de baixo para cima e a ajudar a criar um Brasil mais sustentável. Nem o Brasil nem o mundo podem pagar menos. Os interesses comerciais percebem isso cada vez mais”. Parece um líder popular falando. Não é uma gracinha?

 

Emerson Leal foi vereador e vice prefeito de São Carlos nas administrações de Newton Lima e Oswaldo Barba. É colunista colaborador do Tribuna São Carlense.


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