Uara Pataxó, liderança e coordenadora geral do Centro de Culturas Indígenas da UFSCar relata a participação da entidade no ato de 13 de julho de 2021

19/08/2021 Off Por admintribuna

A entrevista foi realizada por e-mail, pela equipe do Tribuna São Carlense, em 2 de agosto de 2021.

TSC – Como foi a participação do Centro de Culturas Indígenas da UFSCar na construção da manifestação do dia 13/07? Uara (CCI) – Desde 8 de junho vemos a mobilização de mais de 45 povos originários representados por 850 indígenas no Levante Pela Terra em Brasília, tendo em vista esse movimento entidades sociais nos convidaram para fazer parte desse ato contra os ataques aos direitos dos povos indígenas.

TSC – Quais foram as principais pautas trazidas pelos estudantes indígenas?  

Uara (CCI) – A Apib [Associação dos Povos Indígenas do Brasil], em conjunto com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) enviou um apelo à Organização das Nações Unidas (ONU) para que barrasse o PL490, os meses de julho e agosto tem sido de grande luta para os povos originários  e principalmente o mês de agosto que é marcado pelo reconhecimento dos povos indígenas, diante disso, nós do CCI nesse ato que fizemos no dia 13/07 levamos as principais pautas que são a PL490 que visa anistiar grileiros e legalizar o roubo de terras, a nomeação do ruralista Joaquim Pereira Leite para o ministério do meio ambiente e o marco temporal, esse projeto é uma medida de racismo e exclusão do Estado, no qual estipula um período que delimita aos indígenas o direito às terras que estivessem em sua posse após 1988. Essa lei ignora todo o contexto histórico e político de genocídio, exclusão, e expulsão dos povos indígenas de suas terras desde a invasão colonialista em 1500, principalmente por forças ligadas ao agronegócio e mineração, além dessas pautas  levamos a questão da vacinação dos estudantes que estão em São Carlos sem se vacinar, pois a prefeitura ainda não liberou as doses para 55 estudantes indígenas, a vacina é um direito dos povos indígenas independente se a população vive em contexto urbano ou em aldeia. 

TSC – Como foi o ato? Onde aconteceu a concentração, quais as atividades desenvolvidas e demais entidades participantes?

Uara (CCI) – Nós do CCI enquanto coletivo tivemos o apoio dos movimentos PCB São Carlos, Coletivo Ambientalista Comunista, Brigadas Populares – São Carlos na construção do evento, nos concentramos em frente ao mercadão no centro de São Carlos, montamos cartazes, fizemos falas, entoamos nossos cantos ancestrais e fizemos uma passeata chamando atenção da população sobre as pautas trazidas pelos povos indígenas.

TSC – Acompanhamos nas redes do CCI, que atualmente há um problema em relação à concessão de novas Bolsas Permanência pelo MEC. Qual a situação dos estudantes indígenas da UFSCar, em relação ao acesso às políticas de permanência?

Uara (CCI) – No coletivo do CCI, temos cerca de 268 estudantes indígenas matriculados, 183 estão recebendo a bolsa permanência do MEC de R$ 900,00, 85 estudantes estão sem receber a bolsa permanência. Quase que a totalidade de quem não recebe a bolsa é ingressante de 2020, pois o MEC não abriu o sistema para novos cadastros. Considerando que deva entrar por volta de 85 estudantes indígenas em 2021 (ainda não temos certeza deste número, pois as matrículas ainda não se encerraram, estamos considerando os últimos dois anos), teríamos cerca de 170 estudantes indígenas sem receber a bolsa permanência.

TSC – Quais foram as medidas de segurança, tomadas em relação a pandemia, durante as manifestações?

Uara (CCI) – Tomamos todas as medidas possíveis de segurança e prevenção a Covid-19, levamos álcool em gel, máscara e mantemos o distanciamento social.

TSC – Quais as próximas ações do CCI em relação às pautas trazidas na manifestação?

Uara (CCI) – Por enquanto estamos trabalhando apenas nessas três pautas que envolvem a questão da sobrevivência, o direito à terra e o direito à vacinação dos povos indígenas.

Para saber mais, acesse a matéria completa sobre “A luta de estudantes indígenas em São Carlos contra o desmonte da universidade e o Projeto de Lei 490/2007”.