Sobre a adoção do EaD

por Antônio Soares

A necessidade do isolamento social levou ao fechamento das escolas, uma medida acertada para segurar a epidemia que nos atinge. Mas isso não é tudo, é preciso pensar o que fazer para manter a qualidade do ensino e do ambiente escolar, mesmo que esse ambiente não se configure mais, pelo menos por algum tempo, como espaço físico comum. Nesse sentido, o uso de ferramentas digitais que permitam o sustento de um espaço coletivo, ainda que virtual, é uma ótima alternativa. Só que isso não quer dizer que a simples substituição de aulas presenciais por aulas on-line seja suficiente. Surge, então, uma questão: o modelo de ensino à distância adotado tem realmente minimizado os problemas vindos com a quarentena?

A continuidade de uma rotina escolar é positiva, como bem defende um grupo de educadores que assinam uma carta com “ponderações sobre o ensino escolar em tempos de quarentena”, e isso pode ser alcançado por meio de atividades de complementação e reforço de conteúdos já aprendidos pelos estudantes. O ensino de novos conteúdos, porém, não pode ocorrer sem um cenário adequado de socialização, de constituição de relações orgânicas entre alunos e professores.

Além disso, existe o problema de acesso a aulas on-line, que não se limita ao acesso a internet e computador ou celular, mas está relacionado com condições materiais mais amplas. Custeio de conexão de internet ou transmissão em TV aberta das aulas não são suficientes para garantir que todos os estudantes consigam ter acesso. Há também a necessidade de espaço, tempo e condições alimentares e psicológicas, sendo estas últimas facilmente afetadas pela quarentena.

Quando olhamos para o contexto maior em que a alternativa às aulas presenciais estão sendo desenvolvidas, fica claro que a resposta para a nossa questão é negativa, e qualquer defesa do contrário só pode surgir de um completo desligamento da realidade em que vivemos. Somos obrigados, pelo andamento das coisas, a admitir que a sanha produtivista é maior que a preocupação com a qualidade do ensino e com estudantes. Mas isso é reflexo de algo ainda mais fundamental: a preocupação é maior com a economiado que com o povo. Em um mundo em que tudo é mercantilizado, até a educação pública tende a se desenvolver sem levar em conta as demandas da população. Mas não entreguemos os pontos, lutemos por um ensino não só público, mas verdadeiramente popular!