Sem vacinação de alunos e professores, aulas presenciais são retomadas em São Carlos e categorias organizam manifestações para amanhã (22)

Sem vacinação de alunos e professores, aulas presenciais são retomadas em São Carlos e categorias organizam manifestações para amanhã (22)

21/02/2021 Off Por Equipe Tribuna

O Pátio Escolar da Secretaria de Educação: O Novo Corredor da Morte

Em função da pandemia do Coronavírus, as aulas presenciais dos ensinos infantil, básico e médio estavam suspensas desde o primeiro semestre do ano passado.  No entanto, o cenário mudou neste começo de fevereiro com a retomada das aulas presenciais nas redes privada, municipal e estadual mesmo não havendo alteração no panorama pandêmico, uma vez que a primeira onda foi mal combatida e uma nova já se aproxima com maior intensidade. Amanhã, 22 de fevereiro, os professores de diversas categorias se mobilizarão em ato simbólico, tendo como pautas principais a vacinação da comunidade escolar antes do retorno presencial das aulas, a manutenção do auxílio emergencial e o impeachment do Governo Bolsonaro-Mourão.

De acordo com Ronaldo Mota, professor das redes pública e privada de educação e candidato a Prefeito de São Carlos pelo PSOL em 2020, as pressões do Estado para o retorno às aulas presenciais ou semipresenciais partem de exigências das empresas da rede privada de ensino na intenção de captar mais lucros. Reforça essa análise o fato de estarmos no início de um novo período letivo, o que em uma situação não pandêmica promoveria uma onda de matrículas e rematrículas para essas grandes instituições privadas. Vale dizer ainda que essa pressão parte da premissa de que os decretos públicos aplicam-se aos âmbitos público e privado. 

Ronaldo continua que o Estado utiliza de um falso discurso moralista de defesa da educação, enquanto força o retorno presencial, em fase vermelha, de 35% de alunos sem histórico de problemas de saúde relacionados à COVID-19; e ainda 70% dos alunos, nas mesmas condições de saúde mencionadas, em fase amarela. Porém o mesmo Estado não oferece paramentação suficiente, tanto em infraestrutura, como banheiros suficientes, quanto em auxílio, de educadores de apoio a professores, para o grande número de alunas e alunos. 

O professor defende que a saída para essa situação passa por pressionar os governos Bolsonaro e Dória para  a realização de um sólido planejamento de vacinação da categoria de professores e comunidade, além da redução do número de alunos e ampliação da infraestrutura escolar, o que significa ampliar os recursos para aulas em espaços virtuais no período pandêmico. Completa ainda que o aumento e continuidade do auxílio emergencial é fundamental para que aqueles que dependem da escola pública para também poderem se alimentar, de forma a impedir que passem fome e permitir que possam seguir suas atividades com relativa regularidade. 

José Lucas, da categoria O de professores do Estado, afirma que “é um consenso entre os professores revoltados que o retorno despreparado  das aulas presenciais é um crime contra a vida da comunidade escolar (professores, alunos, faxineiras, merendeiras, etc.), já que impede o bom funcionamento da escola e a segurança daqueles que recebem seus serviços: a comunidade sãocarlense”.

Em resposta a esse ataque em pleno rumo à fase vermelha, sem leitos sobrando nas unidades de saúde, os professores estão se mobilizando em greve, juntamente com a juventude da cidade, forças políticas e pais e agregados dos estudantes indignados, para barrar o genocídio da comunidade. Na opinião de José Lucas, tal fato fica cada vez mais claro nas intenções dos tomadores de decisão do estado, aliados à elite que sentencia o povo à morte para angariar mais lucros; sendo dessa vez o corredor da morte, o pátio escolar.

Outra iniciativa contra a retomada das aulas é o Projeto de Lei (PL) do Mandato Coletivo (PSOL), encabeçado pelo vereador Djalma Nery, para um retorno das aulas presenciais mais seguro e em momento mais assertivo. Edineide Morais Brasil, integrante do Mandato, explica que a PL estabelece rigorosos critérios para o retorno das aulas presenciais, contemplando a vacinação pública da comunidade escolar, de modo que essa tenha seus serviços com segurança e dignidade. Além disso, permite que os pais deixem seus filhos nas escolas para poderem trabalhar, uma vez que Airton Garcia se isenta da responsabilidade de garantir o isolamento dos trabalhadores sãocarlenses; e dessa forma Edineide complementa dizendo que provavelmente Airton vetará o Projeto de Lei, mesmo sendo aprovado na Câmara. 

Um bom momento para nos expressarmos e sabermos mais desse contexto é a Audiência Pública proposta pelo Mandato Coletivo que ocorrerá em breve, ainda sem data marcada, contando com a participação do Secretário de Saúde, Marcos Antonio Palermo, e da Secretária da Educação, Wanda Hoffman, ex-reitora não reeleita da UFSCar, já conhecida por apoiar o desmanche dos espaços públicos através, por exemplo, do apoio aberto ao Projeto Future-se. Tal Audiência tem como objetivo dar espaço para comunicação direta entre a população e seus representantes públicos, além de esclarecer a conjuntura do retorno das aulas presenciais em relação à vacinação. 

 O cenário da saúde na cidade é catastrófico: mais de 100 óbitos pela COVID-19 foram registrados no município, avançando a ritmo acelerado duas a quatro mortes por dia; sem cirurgias eletivas nem leitos psiquiátricos, agora tendo seus espaços e profissionais remanejados para cuidados com o Coronavírus, assim como o Pronto Socorro da Santa Casa, que não mais atende emergências consideradas menos graves. Quanto maior a movimentação e união da população, mais possível será reverter este cenário.


Gostou dessa matéria? Contribua com o jornalismo popular na cidade: http://tribunasaocarlense.com.br/financiamento-coletivo/