Por que o acordo de desnuclearização entre EUA e Coreia do Norte não avança?
27/12/2020Por Emerson Leal
Em 10 de dezembro passado Stephen Biegun, principal representante do governo norte-americano para as negociações com a Coreia do Norte visando à desnuclearização da Península Coreana, declarou que “Trump não conseguiu o que desejava (sic!) com o dirigente Kim Jong-Un” e culpou Pyongyang pelo fracasso nas negociações. Essa foi a terceira tentativa de fechar um acordo entre ambos: a primeira ocorreu em Cingapura em 2018 e, a segunda, em Hanoi, capital do Vietnã, em 2020. No primeiro encontro, o resultado teria sido apenas uma “vaga promessa de desnuclearização”. Afinal, era apenas o começo do ‘namoro’.
- As negociações ocorridas em Hanoi em 2019 também ‘fracassaram’ – certamente porque Trump não conseguiu “o que desejava” do dirigente norte-coreano. E, como não poderia deixar de ser, “a culpa” teria sido do líder coreano do Norte! Em visita recente a Seul, Stephen Biegun afirmou que o “compromisso de Trump nessas negociações era ambicioso e ousado”, no entanto, nossos interlocutores “desperdiçaram muitas oportunidades nos últimos dois anos”. Por isso ele estaria “desapontado”.
- Curioso – e compreensível – é o fato de que Trump sempre faz um jogo diplomático: às vésperas da reunião em Hanoi, ele fez um elogio a Kim Jong-Un, ao dizer que “tivemos progresso na primeira cúpula (…) e acredito que teremos grande progresso nesta”. E jogou confetes em Kim: “Eu não desisti de desnuclearizar a Península Coreana; a Coreia do Norte tem um tremendo potencial econômico”. Mas, não houve acordo e a cúpula terminou antes de acabar. A divergência entre ambos os líderes foi na questão das sanções criminosas que os EUA impõem à Coreia do Norte desde a década de 1950 e o cronograma de desmantelamento do complexo nuclear, de ambas as partes, na Península. Na coletiva à imprensa, Trump disse que o líder norte-coreano “exigia o fim das sanções impostas ao regime de Kim [ou seja, ao país!]”. Trump não aceitou, consubstanciando o fracasso da reunião de cúpula.
- Além dessa questão fundamental para os interesses da Coreia do Norte, existe outra não menos importante, que é a manutenção de cerca de 30 mil soldados norte-americanos em 15 bases militares na Coreia do Sul. Sobre isso os EUA não querem nem conversar. Então, surge a questão: teriam mesmo os EUA desejo de desnuclearizar a Península Coreana?Existe possibilidade de alcançar algum “acordo”, se apenas a Coreia do Norte é quem tem de ceder?
- Os EUA continuam com seu calendário de manobras militares no céu, na terra e no mar – inclusive com ogivas nucleares – e só concordam em retirar as sanções econômicas contra Pyongyang quando o presidente Kim Jong-Un destruir todo o seu arsenal nuclear e parar de desenvolver projetos de mísseis de longo alcance. Em suma, parece que Trump considera que o líder coreano do Norte é idiota.
- A Resposta de Kim tem sido à altura:“Jamais atacaremos primeiro. Contudo, desenvolver nosso poderio bélico é um direito legítimo de auto-defesa. Seria estupidez abandonar o rifle de caça diante de uma alcateia de lobos que ataca ferozmente”! Axé!
Emerson Leal foi vereador e vice prefeito de São Carlos nas administrações de Newton Lima e Oswaldo Barba. É colunista colaborador do Tribuna São Carlense.
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