Por melhores condições de trabalho, entregadores de São Carlos fazem paralisação de dois dias

Por melhores condições de trabalho, entregadores de São Carlos fazem paralisação de dois dias

13/10/2021 Off Por admintribuna

Nos dias 11 e 12 os entregadores de São Carlos concentraram-se no estacionamento ao lado do McDonalds da Avenida São Carlos e realizaram uma paralisação. O objetivo é fazer com que empresas como o Ifood ofereçam melhores condições de trabalho. Entre as reivindicações dos trabalhadores está o aumento da taxa recebida pelos entregadores e o fim da coleta dupla de pedidos.

Nesse feriado prolongado dos dias 11 e 12, os entregadores de aplicativo de São Carlos paralisaram suas entregas, com o objetivo de conseguir melhores condições de trabalho. Os motoboys concentraram-se no estacionamento ao lado do McDonald’s da Avenida São Carlos ao longo dos dois dias e realizaram buzinaços no centro da cidade e nos arredores do shopping em horários que seriam pico das entregas. 

As duas principais reivindicações são o aumento da taxa recebida pelos entregadores por entrega e a extinção das coletas duplas (quando um entregador realiza duas entregas em uma única rota).

Segundo Wallace, que trabalha com entregas por aplicativo há mais de dois anos, houve uma piora nas condições de trabalho dos entregadores nesse período: “Quando comecei era muito diferente, os valores eram maiores, não tinha pedido duplo e muitas outras coisas que eles aderiram agora com o tempo. Depois que o tempo foi passando começaram a vir essas dificuldades pra gente, teve a pandemia, a gasolina aumentou, pneu aumentou, relação aumentou, e na hora que a gente mais tá precisando que eles nos ouçam e que eles nos ajudem, eles estão diminuindo taxa, colocando pedido duplo, dificultando pra gente que é pai de família e que depende desse trabalho para levar o sustento para dentro de casa.”

As entregas duplas e as taxas de entrega

Na plataforma Ifood as taxas de entrega que são cobradas dos consumidores não são integralmente repassadas aos motoboys. Nos termos de uso para entregadores do Ifood, a empresa não divulga a porcentagem dessa taxa nem sua lógica de aplicação, e tampouco compromete-se em repassar aos motoboys os valores integrais das entregas. Em postagem feita em junho na plataforma Reclame Aqui para o Ifood, um usuário entregador expõe: “uma rota que foi cobrada do cliente 13,99 e me pagaram 8,66 pra rodar quase 8 km”. 

Wallace também comentou sobre as taxas cobradas pela plataforma: “O Ifood retira da gente, ele age no escuro, a gente nunca tem certeza de nada. Eles tiram de 15% a 20% do valor da taxa que a gente recebe. Então eles já descontam na hora de mandar o valor pra gente. Ele cobra do cliente 12 reais e repassa pra gente 8 reais, dependendo da entrega”. No caso das entregas duplas a situação fica mais crítica: “Quando o pedido é duplo, aí é muito mais. Aí tem entrega que eu já percebi que eles ganham meio a meio com a gente ou às vezes até mais.”

Apesar da maior quilometragem, Wallace comenta que esse tipo de entrega “sai quase na faixa”, ou seja, em comparação ao que os entregadores gastam com combustível, o que eles recebem por esse tipo de entrega é muito pouco.

Para piorar a situação de exploração dos trabalhadores de delivery da plataforma, os termos de uso para entregadores do Ifood estabelecem que é um compromisso do entregador “utilizar os equipamentos necessários e definidos por lei para realizar as entregas. São exemplos: capacete, luva, jaqueta, mochila e/ou baú. Saiba que todos os custos decorrentes do uso desses equipamentos são de sua responsabilidade”. Assim, todos os equipamentos necessários aos trabalhadores não são fornecidos pela empresa e saem do bolso dos próprios entregadores.

A bilionária empresa Ifood

Em contraste às dificuldades que os entregadores passam, uma reportagem do site de investimentos Snaq divulgou que os lucros da empresa Ifood tiveram aumento de 234% entre o primeiro semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2021, ou seja, no período de um ano. Além disso, de acordo com a revista Forbes Brasil, em 2018 a empresa tinha valor de mercado de mais de US $1 bilhão.
Ainda de acordo com a mesma publicação da Forbes Brasil, a plataforma Ifood é de propriedade do grupo Movile desde 2014. A Movile, cuja principal atividade é comprar e manter ações de outras empresas, tem como principal investidor Jorge Paulo Lemann, que de acordo com o ranking da Forbes, é o maior bilionário do Brasil e tem patrimônio declarado de US $16,9 bilhões.