População vai às ruas de São Carlos em defesa da universidade com Lula e Haddad

População vai às ruas de São Carlos em defesa da universidade com Lula e Haddad

28/10/2022 Off Por Editorial Tribuna São Carlense

Na terça-feira da semana passada (18), manifestantes ocuparam as ruas em São Carlos (SP), somando-se às mobilizações nacionais em defesa da educação pública. Durante o ato, entidades representativas posicionaram-se contra o governo de Jair Bolsonaro (PL), enfatizando apoio às candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à presidência  da República, e de Fernando Haddad (PT), ao governo do estado de São Paulo. 

Ato em São Carlos 

A manifestação partiu da Praça XV de Novembro em passeata até a Praça do Mercado Municipal, contando com panfletagem e falas de entidades estudantis e sindicais.

Para Octávio da Motta, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e membro da diretoria da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduação), a mobilização de estudantes, técnicos e professores em São Carlos é resposta a várias medidas do governo Bolsonaro que são prejudiciais para ciência e para educação. 

Segundo Elaine Vidal, integrante da diretoria do SINTUFSCar (Sindicato dos trabalhadores Técnico-Administrativos da UFSCar), em São Carlos o ato foi construído através do Comitê de Lutas. Esse comitê reúne movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos do município. 

Entre as deliberações do comitê, o ato também trouxe apoio às candidaturas de Lula e Haddad, à presidência da república e ao governo do estado de São Paulo, respectivamente. 

Para Fernanda Castelano, presidenta do ADUFScar (Sindicato dos Docentes em Instituições Federais de Ensino Superior dos Municípios de São Carlos, Araras, Sorocaba e Buri), a continuação da agenda de lutas foi fundamental. Isso principalmente devido ao processo de destruição de direitos e cortes nas áreas de educação, ciência e tecnologia que atravessa o Brasil.

Diante do cenário de ameaça às instituições democráticas, vivido neste momento pré segundo turno eleitoral, na avaliação da dirigente, o ato foi importante para fortalecer a luta “(…) pelas candidaturas progressistas, pelo que o Brasil precisa para retomar a sua trajetória de construção, de democracia, contra o autoritarismo, contra as ameaças que o atual presidente tem feito aos sistema judiciário e à população de maneira geral (…)”. 

O ato foi pacífico durante a maior parte, sem princípios de confusão ou violência entre os manifestantes e o restante da população. Infelizmente, a segurança do ato relatou que um motorista apoiador de Bolsonaro tentou avançar com o carro sobre a passeata. Esta tentativa de atropelamento não foi a única relatada durante os atos nacionais do dia 18.

Mobilização Nacional

A mobilização nacional foi convocada pela pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela ANPG, devido ao contingenciamento de verbas para universidades e institutos federais, anunciado no dia 5 de outubro

A pressão em defesa da educação pública catalisada pelas entidades surtiu alguns efeitos. No dia 7 de outubro o Ministro da Educação Victor Godoy anunciou a publicação da portaria nº 8.919. Essa portaria liberou os R$ 328 milhões, que haviam sido contingenciados pelo decreto 11.216 de 30 de setembro de 2022.

Apesar disto, o recuo do governo federal não alterou o cenário de profunda precarização da educação vivenciado durante o governo Bolsonaro. Isso justificou a convocação para as manifestações ocorridas no dia 18 de outubro, em todo o país. 

De acordo com nota publicada pela Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), apesar da liberação desses recursos, “o governo federal cancelou mais de R$ 600 milhões de programas estratégicos para a soberania do país como o Fomento a Projetos de Implantação, Recuperação e Modernização da Infraestrutura de Pesquisa das Instituições Públicas (CT-Infra)”. 

Tendo em vista a defesa da educação e da democracia, as entidades estudantis manifestaram apoio à candidatura do ex-presidente Lula. Essa pauta também esteve presente na mobilização são-carlense. 

As Universidades Públicas em São Carlos

Na declaração concedida ao Tribuna São Carlense, Fernanda Castelano também enfatizou a função social e a importância da autonomia universitária, para o desenvolvimento nacional e o fortalecimento da democracia. Além disso, lembrou que medidas como a falta de reajustes dos salários de funcionários federais têm impacto direto na economia local: 

“Nós, servidores federais, estamos a 5 anos sem reajuste nos nossos salários, isso tem um impacto na economia [que é] gigantesco, porque é um déficit de aproximadamente 50% dos nossos salários. Numa cidade como São Carlos, que tem milhares de servidores públicos, a economia é diretamente impactada pelo salário dos trabalhadores das universidades que tem de ser injetado na própria cidade.”

Outro retrocesso percebido pelas entidades é o processo de terceirização de serviços, que vem sendo ampliado nas universidades. Neste sentido, Rafael Marreco, presidente do Centro Acadêmico Armando Salles de Oliveira, da USP, destaca: 

“(…) uma das principais pautas que a gente tem para além do Fora Bolsonaro, e também entendendo a necessidade de derrotar o Bolsonaro porque essas pautas entram em seu projeto, é a terceirização dos serviços da Universidade de São Paulo. O ônibus que faz o transporte entre o campus 1 e o campus 2 está sendo terceirizado pela prefeitura da USP, o bandejão [restaurante universitário] já é terceirizado e nós temos a pauta de retomar o bandejão estatizado, que nós tenhamos trabalhadores e trabalhadoras contratados estatutariamente pela USP e [que] tenha mais funcionários trabalhando”. 

A permanência estudantil foi outra área severamente afetada neste cenário. Raisa Cortez, integrante da atual gestão do Diretório Central de Estudantes da UFSCar, relembra o aumento de mais de 130% no custo das refeições oferecidas pelo Restaurante Universitário da UFSCar em 2018. Assim, o preço da refeição passou de R$1,80 para R$4,20. 

Diante do cenário, os estudantes ocuparam de forma pacífica o prédio da Reitoria da universidade. Após reintegração de posse, sete estudantes foram responsabilizados judicialmente e condenados ao pagamento de multa no valor de R$73.2 mil reais