Com fuzis nas mãos, Guarda Municipal encerra batalha de rimas no Itamarati

Com fuzis nas mãos, Guarda Municipal encerra batalha de rimas no Itamarati

17/07/2021 Off Por Editorial Tribuna São Carlense

A batalha aconteceu no dia 30 de junho na praça do Residencial Itamarati e visava distribuir máscaras para a população, mas foi interditada pela Guarda Municipal.

Na quarta-feira do dia 30 de junho, o Coletivo dos Pombos realizou um sarau e uma batalha de rap no local conhecido como Praça do Itamarati. Zidane, integrante do coletivo, explica o motivo da batalha: “era para a população se expressar, seja no sarau, seja na batalha, e para a gente conseguir distribuir máscaras para conter a transmissão do vírus, já que o governo age ao contrário, para espalhar o vírus.” Ao todo, o evento contou com aproximadamente 30 pessoas. Segundo o coletivo, 25 máscaras PFF2 foram distribuídas.

O Coletivo dos Pombos organizava batalhas de rima na Praça Coronel Salles (conhecida como Praça dos Pombos), na região central da cidade. Com a pandemia, os eventos foram suspensos e, no último dia 30, os organizadores decidiram ir para a periferia realizar o evento. 

Para Gomes, artista local e integrante do Coletivo dos Pombos, a mudança de lugar teve sua importância: “a distribuição das máscaras foi muito importante. E também levar um pouco da batalha, da cultura hip hop para um povo que quase não pode ir ver, porque muita gente do Itamarati não sai dali porque é muito longe.”

Intervenção da Guarda Municipal

Às 20h15min, a Guarda Municipal chegou ao local ocupado pelo Coletivo com armas em punho. As pessoas que estavam no evento dispersaram-se e a ocupação foi finalizada de forma brusca. 

Para Gomes, a medida da guarda foi descabida: “Achei muito desnecessário o jeito que eles chegaram. Tava certo, querendo ou não a gente passou poucos minutos das 20h, só que era questão de eles chegarem e falarem com a gente.” Zidane complementa: “Pra que, na teoria, serve a guarda municipal? Pra trazer segurança à população. A gente tava ali reunido, nosso evento tava acabando, e quando chega a guarda municipal, qual é a reação de todo mundo? É correr, é mais medo do que segurança. Porque é isso, os caras estavam de 12, de revólver, de pistola, fuzil automático.”

Após a dispersão, a equipe do Tribuna São-Carlense flagrou a guarda municipal enquadrando e revistando, ainda com armas em mãos, algumas pessoas que estavam presentes no evento. Segundo Samuka, morador do Itamarati e integrante do Coletivo dos Pombos, algumas pessoas que foram abordadas entraram em contato com ele e disseram que foi uma “abordagem padrão”.

Imagem da abordagem realizada pela GCM, capturada pela equipe do Tribuna São-Carlense

Em nota divulgada pela Prefeitura de São Carlos no dia 5 de julho, a GCM colocou o evento na categoria de “festas em chácaras, residências, praças” e intitulou-o como “música ao vivo na Praça do Itamarati”. Ainda na mesma nota, a abordagem foi colocada como “realizada a orientação coletiva”.

Samuka ainda relata que esse tipo de abordagem da Guarda Municipal acontece com frequência no bairro: “Essa coisa deles chegarem e dispersarem todo mundo acontece na maioria das vezes quando tem gente na praça. Eles chegam, tiram as pessoas, abordam as pessoas que tão do lado da praça.”

As medidas de segurança contra a pandemia em São Carlos

Segundo nota divulgada no dia 18 de junho na página da Prefeitura de São Carlos, entre os dias 21 de junho e 2 de julho o toque de recolher foi decretado das 20h às 5h. Além disso, as seguintes atividades não essenciais foram liberadas até às 20h, sem restrições de horário para início: barbearias, salões de beleza, cultos religiosos, academias, parques e clubes.

Sobre as chamadas medidas sanitárias tomadas pela prefeitura, Zidane comenta: “A gente pode acompanhar a médica Júlia Rocha e outros médicos que estão falando sobre isso, que se a gente tá ao ar livre, todo mundo com PFF2 e com distanciamento, a gente tem muito menos chance de pegar o vírus do que quem tá no ônibus todo dia indo pro trabalho.” E completa: “Então a gente se organiza pra fazer o que o Estado não faz. Acho que é pra isso que a gente existe e pra isso que a gente vai continuar existindo.”

Você pode acompanhar o trabalho do Coletivo dos Pombos nas redes sociais:

https://www.instagram.com/batalha_dospombos/

https://www.youtube.com/channel/UC7Z2gOPsoi6nq_2X2bll9rA

https://www.facebook.com/Ocupação-Cultural-Praça-dos-Pombos-102545907817022/?locale=pt_BR