A lenda de que os militares são incorruptíveis

A lenda de que os militares são incorruptíveis

12/07/2021 Off Por Colaborador/a

Por Emerson Leal

Durante os 21 anos de ditadura militar – de 1964 a 1985 – de triste memória, o que tivemos foi não apenas obscurantismo, arbítrio, torturas, mortes e perseguições contra a oposição, principalmente a de esquerda. Tivemos também corrupção nos governos militares. E da grossa! Basta lembrar que, em determinado momento, quase nos estertores do regime, uma revista de circulação nacional – se não me falha a memória, a ISTOÉ – fez uma ampla matéria falando da corrupção dentro do governo, com provas apresentadas. No mesmo dia em que a revista chegou às bancas do país inteiro, foi baixada uma ordem para sequestrar todas elas. Algumas bancas foram quebradas, outras incendiadas. Ou seja, uma clara ‘confissão’ de culpa!

            1. E hoje? Como é de conhecimento público, o governo Bolsonaro enfiou mais de 6 mil militares em todos os cargos possíveis e imagináveis. Desde ministérios até em cargos comissionados (‘de confiança’) dos mais diferentes níveis como forma, fundamentalmente, de engordar os salários dos militares que ‘mamam’ felizes nas tetas dos cofres públicos. Mas a mamata não para por aí. Jeferson Miola acaba de publicar em seu blog um artigo falando dos “Militares no poder: morticínio e corrupção”! Pois bem, ocorre que agora, atuando como uma ‘facção político-partidária’ de um grupo que comanda o País, os militares ficaram mais expostos a um ‘escrutínio público’. Aí, os podres começaram a aparecer.

            2. Como diz Miola, os militares consideram-se “os fundadores da consciência nacional e tutores da Nação” e que caberia a eles “a tarefa de conduzir o País ao encontro de seu destino” e não a civis “impuros, corruptos e incompetentes”. Contudo, começa a ruir a autoimagem ‘vendida’ pelas FFAA brasileiras de que os militares é que seriam os “puros, incorruptíveis e competentes”. Qual é, de fato, a realidade que vem sendo desnudada desde a desgraça que assolou o País com a eleição fraudulenta de Bolsonaro? Simples: “desvios anti republicanos, nepotismo e corrupção” protagonizados também por representantes das Forças Armadas dentro do governo.

            3. Começa a aparecer a “opulência dentro dos quartéis, bancada com dinheiro público: alta litragem de uísque 12 anos, conhaque de grife e cervejas; toneladas de lombo de bacalhau, picanha e de outros cortes nobres de carne; leite condensado a preço de ouro e outros caprichos do gênero”, como diz Miola. E não para por aí: “Mais de 85% das verbas do ministério da Defesa são destinadas ao pagamento de salários, aposentadorias e pensões. Ao redor de 87 bilhões de reais do orçamento nacional são carreados todo ano para a “família militar”, que é composta por 805 mil integrantes, dentre militares da ativa [358 mil], da reserva [189 mil] e pensionistas”!

            4. Essa chuva de recursos públicos para bancar essa mordomia toda representa cerca de 2/3 de todo o orçamento do SUS para o ano de 2021, “para atender mais de 210 milhões de brasileiros”! O pior é que a quase totalidade dessa farra com dinheiro público “vai para o pagamento de salários, aposentadorias e pensões de dependentes dos militares”. Reportagem do Estadão mostrou que cerca de 140 mil pensões são pagas a filhas de militares falecidos, com valores que chegam a R$ 39,3 mil. Há quem ganhe mais de R$ 100 mil líquidos! Pode?

            5. Dentro do governo e calados, os militares são cúmplices do genocídio que vem sendo cometido por Bolsonaro no enfretamento à pandemia da covid-19. E eles devem ser responsabilizados por isso. O povo brasileiro não aguenta mais ‘tanto horror perante os céus’!


Emerson Leal foi vereador e vice prefeito de São Carlos nas administrações de Newton Lima e Oswaldo Barba. É colunista do Tribuna São Carlense.