Volta Palquinho: Semana de recepção no CAASO é marcada por evento culturais
18/03/2023Nesta última semana, de 12 à 18 de março, ocorreu a semana de recepção para os novos estudantes da USP São Carlos. O CAASO Popular, atual gestão do CAASO (Centro Acadêmico Armando Sales de Oliveira), em parceria com o Centro Cultural da USP, coletivos e secretarias acadêmicas, promoveu uma programação diversa, contando com atividades culturais, de lazer, informativas e políticas. O Tribuna São-Carlense entrevistou a gestão do centro acadêmico e o grupo de maracatu Rochedo de Ouro.
No domingo (11), durante o primeiro dia do evento, o Tribuna conversou com representantes do CAASO Popular, procurando entender melhor a relação das atividades culturais propostas para a semana de recepção e a história do CAASO. Falamos com Jade (integrante da gestão), João Hiroyuki (diretoria), Jorge Arthur (gestão e militante do Movimento por uma Universidade Popular, o MUP) e Matheus Fonseca (diretoria). Falamos também com Chico Simões, do grupo de maracatu Rochedo de Ouro, que integrou a programação da semana. Confira a seguir as entrevistas completas.
Tribuna – Qual a proposta do CAASO Popular para os novos integrantes?
Matheus Fonseca – A semana de recepção tem que ser um momento para tornar o ambiente universitário confortável para os bixos. Em segundo lugar, é [importante] que consigamos mostrar o CAASO pros bixos. O CAASO tem uma história muito forte no movimento estudantil, ajudou fortemente em várias lutas são-carlenses, tanto dentro, como fora da universidade, hoje em dia tá apagado, bem esvaziado e a gente tem como objetivo nessa semana mostrar que o CAASO pode fazer muita coisa, pode ser revivido.
João Hiroyuki – A gente tem várias atividades nesta semana de recepção agora, hoje foi o CAASO Vive, amanhã (segunda) vai ter uma abertura institucional, falando sobre o centro acadêmico, sobre os coletivos que compõem o CAASO, os grupos extracurriculares de extensão que tem aqui no campus. Na terça-feira nós vamos ter um evento chamado Tô a Toa, ele é um evento de integração, uma festa basicamente. Na quarta-feira vamos ter uma aula aberta falando sobre o movimento estudantil, que vai contar com a presença do Aloja, um membro da diretoria do CAASO e um membro do DCE Livre da USP. Na quinta-feira vamos ter um trote solidário, que é um espaço que temos para mostrar outros grupos que têm ações sociais, em São Carlos e também dentro da USP, na sexta feira vamos ter uma apresentação do teatro, com o coletivo chamado Retalho.
Tribuna – E como foi a ideia de trazer o grupo de maracatu (Rochedo de Ouro) para cá?
Jade – A ideia surgiu de um outro diretor, ele sugeriu o grupo porque ele conhecia, é um grupo aqui de São Carlos. Trazer um pouco dessa parte [de] fora da universidade para dentro, de uma cultura, um grupo que não é convencional de se ver, trazer um pouco de uma cultura diferente pra aqui dentro.
João Hiroyuki – O maracatu Rochedo de Ouro, tem uma história de 20 anos na cidade, eles compunham também diversos movimentos culturais e artísticos aqui da cidade. Existia, na verdade ainda existe a Teia, uma casa de cultura que foi muito forte na cidade, eles também compunham a Teia. Hoje eles fazem parte e tem seus ensaios no grêmio Flor de Maio, que também tem uma história muito importante aqui em São Carlos, principalmente porque surge da cultura negra, [então] é uma coisa muito importante também pra gente olhar a história, e fazer as pessoas conhecerem isso.
Jorge Arthur – É importante lembrar que o CAASO tem uma tradição histórica de ter uma simbiose muito grande com os movimentos culturais e educacionais da cidade de São Carlos e região. A gente tá tentando, com essa gestão, reviver essa relação que a gente tem com a cidade, com a população, e tentar ao máximo fazer sempre esse diálogo e fornecer cultura de qualidade, gratuita, pras pessoas. O palquinho é um lugar muito historicamente reconhecido, de acontecer muitos eventos políticos, culturais importantes, apresentações de grupos musicais e tudo, então a gente tenta trazer tudo isso, não só pro corpo estudantil da USP, mas pra ter essa relação mesmo com tudo que tem de cultura na cidade de São Carlos e região.
Matheus Fonseca – Também tenho que complementar que esse evento do CAASO Vive não foi feito sozinho, a gente fez em parceria com o Centro Cultural da USP, ele tá sendo um grande parceiro nosso, na construção da semana de recepção. Foram eles que fizeram o contato, fizeram o convite para o grupo do Maracatu. Atualmente, o Centro Cultural fica ali perto da saída do observatório, do lado do observatório.
João Hiroyuki – O CAASO tem uma história muito forte com a questão cultural, o ambiente do palquinho, que é um ambiente central dentro da Universidade de São Paulo. Aqui em São Carlos, ele foi palco de diversos shows, de diversas bandas, tanto da MPB, quanto do movimento PUNK, e para além disso tinham também as grandes festas que eram os Palquinhos. Os Palquinhos faziam parte do movimento cultural, era um espaço de festa mesmo, festa jovem, festa da juventude para juventude, e que infelizmente desde 2013 ele tem sido criminalizado pela Universidade de São Paulo. Primeiramente por conta de um decreto municipal praticamente multando num valor de, se não me engano, 5 mil reais, os diretores do CAASo que fossem realizar estes eventos no palquinho. Recentemente, no ano de 2022, foi aprovado uma resolução da USP que basicamente criminaliza, com processo administrativo, quem for realizar eventos festivos dentro do campus, isso é um grande retrocesso para as possibilidades de lazer e cultura da juventude, uma vez que elas precisam ser acessíveis, elas precisam ser gratuitas e precisam ser feitas de uma forma que contemplem toda a juventude que participa da universidade, que não é feita apenas de pessoas que tem dinheiro, mas também de pessoas que passam bastante dificuldade dentro da permanência na universidade. Então essa ação da prefeitura do campus, ela é bastante problemática, a gente se vê bastante cerceado de poder realizar eventos festivos aqui dentro do campus. Chamar o maracatu e continuar os trabalhos ao longo do ano para reavivar a cultura, é uma forma que a gente consegue encontrar dentro da institucionalidade, de abarcar o movimento cultural e fazer com que o palquinho e o CAASO sejam uma referência dentro da cultura universitária e da cultura da juventude trabalhadora em São Carlos.
Em seguida, o Tribuna entrevistou Chico Simões, do grupo de maracatu Rochedo de Ouro, que apresentou um “arrastão”, que funciona como uma caminhada ou marcha, onde os instrumentistas, as dançarinas e o público percorreram uma volta por dentro da USP cantando e dançando ao ritmo do baque virado, como evento principal no domingo de recepção do CAASO.
Tribuna – Quem é o Rochedo de Ouro?
Chico Simões – A gente é um grupo que trabalha com a cultura do maracatu de baque virado. Esse ano a gente tá completando 20 anos aqui em São Carlos. E hoje a gente foi convidado para participar aqui da calourada da USP, viemos fazer um arrastão, mostrar um pouco do nosso trabalho, do maracatu de baque virado aqui na USP.
Tribuna – E como surgiu o grupo, de onde vem esse nome?
Chico Simões – Tem uma expressão lá em Recife que a galera fala assim, quando uma coisa foi muito legal, a pessoa fala “pô aquele negócio foi rochedo”, ou então “pô o cara é ponta firme, o cara é rochedo”, é uma expressão que eles usam pra, vamos dizer assim, [atribuir] um grande valor. Aí a gente tava já num processo de pesquisa, com o grupo tocando, ensaiando ritmos pernambucanos, há cerca de 3 anos, e aí num arrastão que a gente tava fazendo, a gente tava indo visitar a fogueira de Xangô, que acontecia num terreiro aqui em São Carlos, no Ilê Aiyê, aí eu tive uma ideia de uma toada, que foi a primeira toada do Rochedo de Ouro, e cantei pro grupo pela primeira vez nessa noite, que a gente foi então homenagear Xangô nessa fogueira. A minha ideia era dar o nome de rochedo pro grupo, só que como a toada falava “rochedo de ouro”, a galera acabou curtindo demais e o nome acabou assim sendo assumido pelo grupo como Rochedo de Ouro a partir daí.
Tribuna – E como funciona essa relação de vocês com o Grêmio Flor de Maio?
Chico Simões – Eu gosto de dizer que o Flor de Maio é nossa mãe aqui, ele nos adotou enquanto grupo aqui na cidade, ele tem muito anos né, tá fazendo cerca de 90 anos, o Grêmio Recreativo Flor de Maio. Há cerca de 10 anos mais ou menos, eles [tem] acompanhando nosso trabalho na cidade, vendo a gente tocar pela rua na cidade, ofereceram um espaço que antigamente era dedicado à escola de samba que tinha sua sede lá, mas que agora ta fora de operação. O patrimônio ainda tá lá, mas a sala tava parada há muitos anos, então a diretoria nos ofereceu o local pra gente poder guardar os nossos instrumentos e fazer nosso ensaio semanal também nesse espaço. Aí, a partir daí se tornou uma relação meio de mãe e filho, a gente vai se ajudando assim, quando a gente tem um recurso a gente ajuda com o que a gente pode, a gente faz eventos juntos lá pra ajudar a manter o espaço, foi um acolhimento.
Tribuna – Alguma consideração final?
Chico Simões – Nossos ensaios acontecem toda sexta-feira, lá no Grêmio Recreativo Flor de Maio, que fica na esquina da Padre Teixeira com a rua José Bonifácio, das 19:00 às 21:00 [horas], é aberto aos interessados que quiserem conhecer um pouco mais do maracatu. Cheguem junto, vamos ocupar as ruas, a gente acabou de passar pela pandemia, e o maracatu é uma cultura de rua, que homenageia a rua, e é um espaço tão caro pra gente agora né. A gente percebe o quanto é importante a gente tá ocupando com qualidade esse espaço e principalmente valorizando essa cultura centenária, que tem aqui no Brasil, oriunda das matrizes africanas, junto com as matrizes indígenas, [que] ajuda a formar essa cultura do nosso povo, que é tão importante e bonita.