A caótica situação da educação em São Carlos
17/02/2022Por Marcelo Innocentini Hayashi
Na semana passada (dia 09/02), ocorreu uma audiência pública na Câmara Municipal de São Carlos para tratar da situação referente a algumas CEMEI’s da cidade. O intuito da reunião foi dialogar com a Secretaria de Educação do município para entender o porquê algumas escolas não puderam voltar às aulas de acordo com o calendário estipulado inicialmente. A Vigilância Sanitária e a Defesa Civil interditaram algumas creches que não estavam em condições adequadas para funcionamento e recebimento dos alunos no espaço.
As unidades que foram fechadas e tiveram seu retorno às aulas presenciais afetadas foram: CEMEI Maria Alice (Cidade Aracy), CEMEI Maria Consuelo (Antenor Garcia), CEMEI Bruno Panhoca (Azulville I), CEMEI Homero Frei (São Carlos I), CEMEI Renato Jensen (Jardim Zavaglia), e CEMEI Ruth B. Souto (Vila Carmen). Todas as creches ficam em bairros periféricos da cidade. Todas elas estão com problemas estruturais como, por exemplo, cozinhas impróprias para trabalho e a manipulação de alimentos, banheiros interditados, e em alguns casos podem colocar em risco as crianças e trabalhadores dessas escolas.
Estiveram presentes na audiência pública, realizada na Câmara, professores e professoras mobilizadas conjuntamente com pais da comunidade escolar buscando uma solução para a situação. Além deles, também estavam presentes a secretária de educação Wanda Hoffmann, representantes da Defesa Civil, Vigilância Sanitária, Conselho Tutelar, SINDSPAM (Sindicato dos Servidores Públicos e Autárquicos de São Carlos e Dourado) e alguns vereadores municipais. A sessão foi transmitida online e contou com diversas participações de maneira virtual, já que o número de pessoas presencialmente estava limitado devido à pandemia da COVID-19.
A audiência durou por mais de 5 horas e foi bem movimentada. Inicialmente a secretária de educação, Wanda, falou por cerca de trinta minutos, e em diversos momentos foi interrompida pelo público e pelos vereadores que estavam conduzindo a sessão. As falas apontavam que a atual secretária não estava falando sobre a situação das creches, e, ao invés disso, estaria fazendo propaganda da sua pasta informando sobre projetos futuros, sem resolver os problemas de agora. Em determinado momento, também foi apontada para parte do dinheiro da Secretaria Municipal de Educação que ficou parada nos cofres públicos, e que poderia ter sido destinada às reformas das escolas que necessitavam mais. Aparentemente, não há nenhum plano para lidar com esses problemas, outro fato criticado pela comunidade escolar, que apontou que a pasta da educação teve dois anos para reformar e preparar as escolas para o momento de volta às aulas, e não o fez.
As falas dos profissionais da educação e comunidade escolar apontaram que essa situação não é nova. Desde agosto de 2021, diversas entidades e membros da comunidade escolar tem apontado para as irregularidades nas creches e escolas da cidade. A Defesa Civil e a Vigilância Sanitária já haviam realizado algumas checagens nas escolas citadas e apontado como poderiam lidar com os problemas para o retorno às aulas presenciais, através de ofícios enviados à Secretaria de Educação, mas sem obter respostas ou posicionamentos. Representantes de outras entidades, como o Conselho Tutelar, também apontaram para a falta de comunicação dos responsáveis pela pasta de educação.
Além dessas questões, no dia da volta às aulas, a secretária da educação impôs um recesso forçado a professores de metade das creches afetadas, enquanto a outra metade se manteve trabalhando. Primeiramente, o fato foi criticado pela comunidade escolar, pois não houve justificativa para fazerem isso apenas com alguns. Depois, ainda houve a questão de que os que foram colocados em recesso terão que pagar esses dias durante o período de férias dos alunos e, acima de tudo, não irão receber salário pelos dias que foram afastados. Alguns professores também criticaram o fato de terem recebido essa informação depois de terem cumprido quase metade do turno de trabalho no dia.
Em entrevista, professores da CEMEI Maria Alice Vaz de Macedo (Cidade Aracy), que preferiram não se identificar, disseram que a situação dessa escola está péssima: “É verdade que essa situação já acontece há muitos anos, a escola vem se deteriorando há muitos anos, mas a questão é o presente, temos que pensar no hoje. E no hoje a escola está inaceitável, inabitável, totalmente quebrada, destruída, com falta de funcionários. E a gente vem nessa luta faz tempo, mas teve que chegar nesse extremo de fazer essas denúncias e mobilizar toda a comunidade, os pais e as famílias, para nossa voz ser ouvida, porque não tem condições realmente de ficar na escola”. Nessa escola específica, a cozinha está interditada pela Vigilância Sanitária, em outra ala há um banheiro interditado pela Defesa Civil com risco de afundamento do chão.
Os professores apontaram que tudo que eles querem é um local onde eles possam fazer um atendimento das crianças enquanto a escola passa por uma reforma, que segundo eles, precisa ser uma reforma estrutural, pois ela está caindo aos pedaços. Os professores também apontaram que a questão toda são as crianças: “Mais quanto tempo essas crianças, principalmente nesse bairro onde os pais são muito necessitados e precisam trabalhar, vão deixar suas crianças? Até quando isso ainda vai ser prorrogado? O que queremos é apenas uma solução para os nossos problemas que não são de hoje”. E continua: “Estamos procurando apoio, dos pais que a gente já conseguiu, da comunidade que a gente já conseguiu parceria, a gente está tentando buscar apoio da mídia para que fortaleçam nossa luta. Nós queremos trabalhar, mas não temos onde trabalhar, pois o prédio está impróprio para uso. […] Então a gente se uniu em prol de buscar essa solução”.
Ainda essa semana, os professores estão convocando uma manifestação para sexta-feira (18/02), às 08h na Praça dos Pombos. O SINDSPAM (Sindicato dos Servidores Públicos e Autárquicos de São Carlos e Dourado) convocou uma assembleia no dia 11 de fevereiro, onde foi aprovada greve da categoria por conta da situação da educação municipal.