Quarta Tem Batalha! Cinema, música e a cena cultural em São Carlos

Quarta Tem Batalha! Cinema, música e a cena cultural em São Carlos

25/11/2020 Off Por admintribuna

O documentário “Quarta Tem Batalha!” (Wesdras Aklen, 2019), é um curta metragem que acompanha o cotidiano da Batalha da Alcatéia, uma roda de rima organizada em São Carlos. O filme retrata a organização coletiva deste movimento de rua, realizado na Praça Brasil.

 

A narrativa parte dos anseios de jovens que procuram fazer da arte sua forma de sustento e se deparam com as dificuldades na articulação da roda, como a falta de incentivo e o preconceito. Ao longo da produção foram entrevistados diversos artistas da cena Hip Hop de São Carlos, como Gon Salves, MC Stevan, MC Primitivo e Nega MC,  MC’s locais que participaram das batalhas de rima da Alcateia.

 

Produzido como trabalho da disciplina de realização audiovisual, do curso de Imagem e Som, da Universidade Federal de São Carlos, o curta é dirigido por Wesdras Aklen, com produção de Edgar Fabricio, que também faz parte da organização das batalhas.

 

Atualmente, as batalhas estão suspensas, por conta da pandemia, mas é possível conhecer mais sobre este movimento através do filme, que está disponível no canal do YouTube da Batalha da Alcatéia. O Tribuna São Carlense conversou com Edgar Fabricio para conhecer um pouco mais sobre o processo de produção do filme.

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TSC – Você pode falar um pouco da trajetória da Batalha da Alcateia e sobre a decisão de acompanhar esse percurso através da produção de um documentário?

 

Edgar Fabricio – A Batalha da Alcateia surgiu na sua forma atual, como ocupação cultural com batalha, em setembro de 2017, e atualmente conta com 121 edições realizadas na Praça Brasil, que fica localizada próxima ao centro de São Carlos. Em 2018, submeti o projeto do documentário para ser feito como parte das disciplinas “Realização 1 e 2”, optei por fazer isso porque o movimento tem muita força e era imprescindível que fosse registrado.

 

Praça Brasil antes de uma edição da Batalha da Alcateia – Making Of do filme “Quarta Tem Batalha!” (2019). Foto: Wesdras Aklen.

TSC – O filme foi produzido a partir de uma atividade curricular do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos. Como foi estabelecer essa aproximação entre a Universidade e uma iniciativa cultural da cidade?

 

Edgar Fabricio –  A Imagem e Som não devolve para a cidade de São Carlos tudo que poderia devolver, assim como boa parte dos cursos da universidade. Para nós, são carlenses, fica a impressão de que a nossa cidade é um retiro de férias universitário, feito principalmente para se embriagar e se divertir, parafraseando um rap da cidade “ganha o cargo porque fez faculdade renomada, louco de pó e cachaça na balada, futuro pediatra” (Capital da Tecnologia – SubLoco Coletividade). A marginalização da própria população de São Carlos em detrimento dos universitários é evidente há muito tempo, estabelecer um ponto de retorno para a comunidade são carlense é dever daqueles que ocupam vagas na UFSCar. Falando mais especificamente da Imagem e Som, é uma vergonha esse curso passar anos e anos exportando curtas toscos de ficção, com temáticas que não conversam diretamente com a população da cidade e que buscam apenas uma masturbação intelectual da sua própria bolha.

 

Batalha da Alcateia – Making Of do filme “Quarta Tem Batalha!” (2019). Foto: Wesdras Aklen.

TSC – O documentário mostra que durante as batalhas foram levantados alguns questionamentos sobre gênero e sexualidade. Como foi tratar dessas questões, para a organização da batalha e também a partir da produção do filme?

 

Edgar Fabricio – A produção do filme teve pouco envolvimento nas questões, quando chegaram na Praça Brasil para gravar, no primeiro dia de gravação, já estava acontecendo a roda de conversa retratada no documentário. Esse processo para a organização da batalha é um processo que se estende até hoje, com o passar do tempo foram estabelecidas regras de convivência para que a batalha se torne um ambiente mais acolhedor aos diversos tipos de pessoas.

 

TSC – Qual foi a circulação do filme e como foi a recepção por parte das pessoas envolvidas na Batalha da Alcateia?

 

Edgar Fabricio – É muito emocionante ver o impacto deste documentário nos jovens que participaram e em todo o pessoal que frequenta a batalha que viu, foi importante para fundar uma identidade e é um filme muito querido por todos da batalha até hoje. Atingiu seu público alvo em cheio, a galera da batalha amou.

 

Jovens na Praça Brasil durante edição da Batalha da Alcateia – Making Of do filme “Quarta Tem Batalha!” (2019). Foto: Wesdras Aklen.

TSC – No filme a Batalha aparece como uma iniciativa organizada de forma independente, sem nenhum tipo de incentivo, por jovens que procuram promover atividades culturais em espaços públicos da cidade. Quais as principais dificuldades desse tipo de ação? Foi possível promover alguma atividade durante o período da pandemia?

 

Edgar Fabricio – A principal dificuldade é a falta de apoio governamental, e não estamos falando de dinheiro, verbas, concessões ou qualquer coisa assim, se a digníssima prefeitura se propusesse apenas a ceder 1 banheiro químico por quarta feira, já estaríamos mais tranquilos com relação ao desenrolar do nosso evento; entretanto, essa prefeitura parece ignorar nossa existência e assim também ignorar o fato de que nós estamos prestando um serviço à população, que faz parte da obrigação deles: oferecer acesso à cultura. No restante das questões, a cultura faz uso da sua própria estética de improviso para sobreviver, como demonstrado no documentário, cada um faz o que pode e o evento acontece. Decidimos não fazer nada durante a pandemia porque a Batalha depende da energia das pessoas e das aglomerações, não gostaríamos de ser um foco de contágio e também não queremos entregar algo inferior a uma batalha presencial para o público, estamos em um período de resguardo e planejamento.

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A equipe do curta contou também com Valter Carneiro, como assistente de direção; Alexandre Nóbrega e Pedro Belizario, como roteiristas; Nubia Pavelqueires, na direção de fotografia e colorização; Alexandre Nóbrega e Wesdras Aklen, como assistentes de fotografia; Vinicius Maués, na direção de som; Larissa Bela Fonte, como assistente de som; Alexandre Nóbrega, na montagem; e Douglas Reginaldo e Larissa Bela Fonte, como assistentes de montagem.


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