Sobre perdermos a vida de mais um jovem negro trans
24/08/2022Nesta segunda-feira (22), um jovem negro trans, estudante de Psicologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), perdeu a vida na moradia estudantil do campus de São Carlos.
Na manhã de ontem (23), amigos, estudantes, funcionários e docentes se reuniram na Praça da Bandeira, no campus da UFSCar, em ato de despedida e homenagem. Entre terça-feira e quarta-feira os estudantes de graduação estão paralisando as atividades na universidade.
Importante reiteirar: um jovem estudante, negro, trans. Não estamos tratando de uma fatalidade. Estamos diante de um problema que é social. De acordo com publicação da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) realizada no início deste ano, a expectativa de vida média de travestis e transexuais no Brasil é de 35 anos. A situação de pessoas travestis ou trans que são negras ou pardas é ainda mais grave: a expectativa de vida cai para uma média de 28 anos, segundo carta da ANTRA à Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH).
Ainda de acordo com a publicação da ANTRA, “estima-se que 13 anos de idade seja a média em que travestis e mulheres transexuais sejam expulsas de casa pelos pais (ANTRA, 2017) – e que cerca de 0,02% estão na universidade”. Os 0,02% que conseguem entrar na universidade enfrentam graves problemas de permanência, e o caso da UFSCar é um deles.
De acordo com o diário da reitoria da UFSCar, no ano de 2022 o Governo Federal retirou da universidade um total de 4,6 milhões de reais em repasses. O caso da UFSCar não é o único: todas as universidades federais passaram por um corte de 7,2% no repasse de verbas em junho. A publicação ainda informa que essa porcentagem retirada da educação pública foi repassada para o Programa de Garantia de Atividade Agropecuária (PROAGRO).
Ao problema econômico, sobrepõe-se o problema social. Lideranças indígenas, negras e LGBTQIA+ fizeram falas no ato de terça-feira expondo o preconceito sofrido pela cor e pela sexualidade dentro da própria universidade. Lucas, colega do jovem estudante de Psicologia homenageado, colocou: “Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta”.
A equipe do Tribuna São-Carlense se solidariza aos amigos e familiares do estudante negro trans vítima, acima de tudo, de um sistema que propaga historicamente o ódio de raça e a transfobia.