Privatização da Eletrobras – um crime de lesa-pátria!
04/06/2021Por Emerson Leal
Há quem diga que eu pego muito no pé de FHC. Mas, como não pegar se foi ele um dos campeões da sanha privatista que assolou o País? Resgatemos apenas dois casos escandalosos: (a) o do início do processo da privatização da EMBRAER. A partir de um dado momento, FHC proibiu que o BNDES financiasse grandes projetos da empresa. O sucateamento da Embraer foi inevitável. A partir daí, foi fácil conseguir o apoio de amplos setores da sociedade para disparar um processo de privatização de uma das principais empresas nacionais estratégicas; (b) com a Vale do Rio Doce deu-se o mesmo: uma empresa, cujo patrimônio era de U$ 130 bilhões, FHC vendeu-a por US$ 3,3 bilhões! Um crime de lesa-pátria!
- Agora, no governo Bolsonaro, os vendilhões da pátria estão também ouriçados: querem privatizar a Eletrobras! Parece que ninguém mais se lembra do apagão do Amapá, no final do ano passado, em que a LMTE – empresa privada do grupo Geminy Energy, responsável pela distribuição de energia elétrica em mais de 85% do estado –, por omissão e leniência, fez o povo do Amapá sofrer com apagões. A recente privatização da CEB-Distribuidora em Brasília segue o mesmo script: sucateia-se para privatizar sem ‘traumas’. Apagões e aumento de tarifas serão inevitáveis.
- A Eletrobras não é deficitária, não é ineficaz e nem causa prejuízo ao País. Mesmo assim querem privatizá-la. “A Eletrobras responde hoje por 30% da geração e 70% da distribuição de energia do País. Ela tem 48 usinas hidrelétricas, 62 eólicas, 12 termelétricas, duas termonucleares, uma solar (…) e até a Usina Nuclear. O parque eólico construído durante o governo Dilma, que custou R$ 3,1 bilhões e gera R$ 350 milhões por ano de lucro, foi vendido por cerca de R$ 500 milhões”! A pergunta inevitável: qual é o maluco que venderia uma empresa “por um valor menor do que o lucro de dois anos de operação”? Isso para não falar do fato de que a Eletrobras foi a responsável pelo programa Luz Para Todos, criado por Lula, para “levar energia elétrica para quase 17 milhões de brasileiros pobres”.
- Não há dúvidas de que os abutres internacionais do ‘capitalismo gângster’ virão correndo ao Brasil para adquirir esse ‘presente’ maravilhoso ao preço de alguns trocados. Em que lugar do mundo conseguiriam uma lucratividade tão grande em tão pequeno espaço de tempo, além de não terem de se preocupar com legislações ambientais rigorosas (como a conservação de rios e florestas), nem com a qualidade do serviço a ser prestado, nem com o pagamento de salários justos para seus empregados, etc.?
- A Vale do Rio Doce privatizada – com os desastres de Brumadinho e Mariana – está aí para não nos deixar mentir. Em síntese, não será gerado um único emprego e o que o povo brasileiro terá em troca será o seguinte: precarização dos serviços de distribuição de energia, surgimento de apagões e aumentos constantes no valor da conta da luz. Como não haverá ‘agência reguladora’ para fiscalizar a Eletrobras privatizada, abusos serão frequentes para alcançar lucros exorbitantes! É o que mostra a história.
- A sanha privatista neoliberal é um câncer na sociedade. Seja a de Collor, a de FHC, a de Temer ou a de Bolsonaro. Se não surgir um movimento de protesto e repúdio contra a privatização dessa grande empresa estatal estratégica, o Brasil verá diminuída a possibilidade de termos um futuro sustentável do ponto de vista ambiental, além de insegurança relativamente ao necessário fornecimento de energia para milhões de brasileiros.
Emerson Leal foi vereador e vice prefeito de São Carlos nas administrações de Newton Lima e Oswaldo Barba. É colunista colaborador do Tribuna São Carlense.
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