Primeira Marcha Pela Verdade Histórica Africana em São Carlos marca novembro
02/12/2023Comunidades negras organizaram a marcha para somar à luta antirracista. O ato ocorreu no último dia 20 na cidade de São Carlos.
Segundo a divulgação realizada pela organização, o evento fez parte da Agenda Unificada de São Carlos, “resultante de um mapeamento de atividades e ações que [foram] realizadas em novembro e estão voltadas para promoção da luta antirracista e para valorização da comunidade negra na nossa cidade”. Ainda de acordo com a publicação, “é uma iniciativa conjunta e colaborativa de diversas instituições e da sociedade civil de São Carlos”.
A concentração começou às 9h no Centro Municipal de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos. Dali, os participantes saíram pela rua Treze de Maio, seguindo para a avenida São Carlos até a rua Padre Teixeira. Por fim, caminharam até o Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio, um dos pólos e símbolos de resistência da cultura negra na cidade. Ao final do ato, por volta das 13h, diversas lideranças fizeram falas dentro do grêmio.
O ato também marcou a articulação e organização do movimento negro na cidade. As entidades, organizações, líderes e parte da população propuseram manter e fortalecer uma comunicação, estreitando laços e unindo-se a uma luta pelo estudo, divulgação e vivência da memória africana na cidade. 14 lideranças negras estabeleceram um grupo para rediscutir e revitalizar o espaço do Grêmio Flor de Maio que é, inclusive, tombado como patrimônio histórico da cidade. Entretanto ele é atualmente subutilizado e não atende o propósito de grêmio recreativo familiar para a população negra da cidade.
Entre os participantes da marcha estavam membros do conselho da comunidade negra de São Carlos, representantes da Batalha da Alcatéia, Maracatu Rochedo de Ouro, diretoria do Centro Acadêmico Armando Salles Oliveira (CAASO) e professores da UFSCar e da USP. Também estavam presentes membros de partidos de esquerda, como PSOL, PT, PSTU e Reconstrução Revolucionária.
Em São Carlos, aproximadamente 30% da população é negra. Mas, para Casimiro ainda é uma parcela da população invisibilizada. Para o artista Casimiro Pascoal Lumbandanga da Silva, “essa missão passa fundamentalmente para dizer para a sociedade são carlense que nós estamos presentes. Que esses 30% da população negra de São Carlos, oriundos da África, precisam ser construídas pautas junto ao poder local que dêem maior visibilidade ao povo africano. Nós não podemos ficar polarizados somente na história e na participação na construção desse país, dessa cultura europeia, de coisas que nós ouvimos lá na minha infância, que não se falava sobre a história de África, não se falava sobre as nossas culturas, não se falava sobre a contribuição técnica que o povo africano trouxe pro Brasil.”
Além disso, a luta antirracista não se limita apenas à nossa cidade e nem ao Brasil. Para Matheus, vice-presidente do CAASO e militante da União da Juventude Comunista junto à Reconstrução Revolucionária (UJC-RR), essa luta liga-se à guerra na Palestina. Segundo ele, “tem uma situação muito trágica acontecendo na Palestina, onde tem o Estado genocida de Israel, um Estado sionista, de ideologia fascista, que busca fazer uma limpeza étnica, que acontece atualmente em Gaza, mas também em todo o restante da Palestina ocupada. Ele tem uma atuação que não se restringe só à Palestina ocupada, mas também ajuda a financiar um estado racista em outros lugares do planeta. Como por exemplo no Brasil, onde a violência policial existe de maneira que até as polícias, os grupos especiais de atuação têm treinamento em Israel”. E conclui: “É toda essa solidariedade numa luta antirracista no Brasil que a gente deve estender também para fora. De fato, em uma solidariedade internacional dos trabalhadores que sofrem tanto no Brasil quanto também na Palestina.”
A equipe do Tribuna São Carlense esteve presente na marcha e está editando 3 reportagens que serão publicadas no nosso Instagram como vídeos curtos.