Por que falta água tantas vezes em bairros periféricos?

A falta de água em alguns bairros da cidade vem sendo um assunto recorrente no cotidiano dos moradores desses locais. Diversos vazamentos em bairros mais afastados do centro demoram a serem resolvidos. Pensando nesse tema, a equipe do Tribuna São Carlense foi até o bairro Cidade Aracy conversar com alguns moradores sobre a situação.

Segundo os habitantes do bairro, a falta de água é recorrente. Isso costuma acontecer aos finais de semana, porém eles relataram que nos últimos meses a frequência do ocorrido diminuiu. Alguns apontaram que na parte do Cidade Aracy II, mais próxima à região da pista de skate, isso tende a acontecer com mais frequência. A grande maioria dos moradores disseram que não há um informe prévio de quando haverá a falta de água, que simplesmente acaba.

Sendo assim, o Tribuna procurou o SAAE para entender melhor qual problema se dá no bairro Cidade Aracy. Segundo o presidente do SAAE, Benedito Carlos Marchesin, quando indagado sobre a causa do problema, disse que a falta de água é culpa dos próprios moradores que consomem em excesso; “o que melhorou, pelo menos nos últimos 10 dias: nós fizemos a interligação do poço que atende o residencial Eduardo Abdelnur I, bombeando a água pro Jardim Antenor Garcia, onde nós temos um reservatório. Não exatamente no Antenor Garcia, ele fica ali no Aracy III, próximo a divisa com o Antenor”.

Porém devemos nos perguntar como o consumo dos moradores do Cidade Aracy pode ser tão maior que em outros bairros? Claro, se considerarmos que a população do bairro é bem grande, a informação pode até ser cabível, mas é de se esperar também que o volume de água destinada ao bairro seja proporcional ao número de moradores. O mesmo problema não ocorre em bairros mais luxuosos ou centrais da cidade, que também gastam muita água por conta do alto número de lojas e comércios. É comum vermos calçadas serem lavadas com mangueira em bairros em que se esbanja mais dinheiro, causando também o desperdício de água.

Sobre o aviso prévio de água, o presidente disse: “quando é uma intervenção programada a gente avisa”, porém quando falta água, “o reservatório começa de manhã cheio, a gente acompanha aqui pela telemetria, e chega no fim de semana, principalmente no sábado, não temos como avisar ou prever, ‘olha a partir das 16h vai faltar água”. E se há esse acompanhamento não deveria haver um informe pelos meios oficiais de comunicação do SAAE sobre a possibilidade de falta d’água em determinadas localidades naquele dia?

Os moradores do bairro também relataram problemas com ruas que foram recapeadas, mas seus bueiros, popularmente conhecidos como “bocas de lobo”não foram reconstruídos, e em dias de muita chuva, essas ruas ficam alagadas. Sobre essa questão Benedito disse que a drenagem do município não fica à cargo do SAAE; “boca de lobo é um acessório do sistema de drenagem, o SAAE não opera o sistema de drenagem da cidade. Quem opera o sistema de drenagem é a Secretaria de Serviços Públicos e Secretaria Municipal de Obras Públicas da Prefeitura”.

Isso expõe outro problema: a falta de comunicação entre as diversas instâncias na cidade. Por exemplo, é recorrente vermos buracos nas vias de São Carlos quando o SAAE realiza algum tipo de manutenção nos canos centrais que distribuem água para as casas, e verifica-se uma demora para o recapeamento dos mesmos. Muitas vezes essa manutenção ocorre em vias que acabaram de ser recapeadas. Até onde a Prefeitura e suas diversas Secretarias responsáveis pelo planejamento e execução da manutenção da cidade mantém contato direto para planejar de forma adequada essas ações conjuntas? A impressão é que essa conversa não existe e as atividades se dão com pouco controle e fiscalização, prejudicando em primeira instância o povo sãocarlense.

Sobre a busca de uma solução Benedito diz: “com a interligação que nós fizemos, esperamos solucionar o problema em todo o bairro Cidade Aracy, Presidente Collor e Antenor Garcia”. E os moradores do Cidade Aracy esperam que sejam tratados com mais dignidade pelo aparato público que deveria prover água à população de forma adequada e justa. O que fica mais que na cara é que o SAAE não cumpre com a demanda de água que existe no bairro. Não há meios de culpar a população por algo que o Estado deveria prover, ainda mais se tratando de água, essencial para nossa sobrevivência e por questões de saneamento básico; saneamento básico esse que corre o risco de ser privatizado pela via do Marco Legal do Saneamento Básico, que irá permitir que empresas privadas passem a gerir empresas como o SAAE. (Fonte: https://www.camara.leg.br/noticias/603540-relator-do-marco-do-saneamento-basico-vai-apresentar-novo-texto-no-dia-29/)

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