O Sabor do Saber #7 – Lauri: devemos relembrar nosso passado para entender nosso presente
08/04/2020por Antônio Soares
A virada do mês de março para o mês de abril, além de trazer o dia da mentira, marca também o aniversário do início da ditadura militar no Brasil, que teve seu início em 1964. Mais de meio século depois, vemos o aumento da influência dos militares no governo federal, sendo o general Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, ponta de lança da intervenção militar na esfera executiva. É importante, então, relembrarmos um pouco da nossa história, pois ela nos mostra que o alto-comando do Exército brasileiro não está do nosso lado, ao contrário: atua em favor das elites que, na crise em que nos encontramos, não quer abrir mão de suas regalias.
Para ilustrar os perigos do regime militar, vamos contar a história do são-carlense Lauriberto José Reyes, o Lauri. Nascido em 1945, estudou no Álvaro Guião e no Diocesano, tendo inclusive colaborado para o jornal O Diocesano. Passados 20 anos, foi para a capital do estado estudar na USP, onde se envolveu com o movimento cultural, e em 1968 fazia parte da direção da União Nacional dos Estudantes (UNE). Nesse mesmo ano, Lauri é preso no histórico 30º Congresso da UNE (que ocorria clandestinamente), mas é liberado logo em seguida para ir ao enterro do pai, José Reyes Daza Júnio. O então delegado da cidade de São Carlos, Glauco, atropelou José e, obviamente, a culpa foi colocada sobre a vítima.
Desde jovem, Lauri se inconformava com a desigualdade social e todos os problemas que assolavam o povo. Fez parte do movimento estudantil como membro do PCB, indo em seguida para a ALN (Ação Libertadora Nacional) e para o MOLIPO (Movimento de Libertação Popular). Deu sua vida pela luta pela democracia, sofrendo perseguição e sendo tachado de terrorista pelos ditadores que atentavam contra a população. Foi morto em 1972, em São Paulo, em uma perseguição policial junto com Alexander José Ibsen Voerões, também militante do MOLIPO, e Napoleão Felipe Biscaldi, um funcionário público aposentado de 61 anos. A versão oficial dizia que os dois militantes atiraram contra os agentes da repressão e acabaram por atingir um senhor que passava pelo local.
Depois de 25 anos, em 1997, a verdade veio a tona por meio da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, que encontrou testemunhas do assassinato de Lauri e Alexander. Os relatos dizem que a perseguição foi, de fato, um cerco organizado pelo Esquadrão da Morte com homens fortemente armados por toda a rua e que nenhum dos dois militantes sacou arma. Napoleão saiu de casa ao ouvir os primeiros tiros para buscar o filho que jogava bola na rua e foi morto pelos policiais. Mais informações sobre o caso podem ser acessadas no site da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Há também o documentário Lauri e a Subversão disponível no YouTube.
São Carlos chegou a batizar uma praça como Lauriberto José Reyes no Parque Santa Marta, além do Centro da Juventude do Cidade Aracy II. Devemos conhecer nosso passado e quem morreu pelo nosso futuro.
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