Motoristas de ônibus paralisam transporte coletivo em São Carlos
19/01/2024Mobilização independente do sindicato ocorreu na manhã desta sexta-feira (19) a fim de resolver irregularidades nos pagamentos salariais e reivindicar melhores condições de trabalho.
Por Davi Bessa e Marcelo Hayashi
Os motoristas de ônibus de São Carlos paralisaram o transporte coletivo em uma manifestação contra as condições precárias de trabalho, na manhã desta sexta-feira. A mobilização, liderada pelos próprios trabalhadores, ocorreu independentemente ao apoio do sindicato, sob alegação de que a organização não representa adequadamente os interesses da categoria. Após aproximadamente três horas de paralisação, 84 ônibus voltaram a circular, marcando um retorno parcial à normalidade.
Entre os problemas da precarização do trabalho, os motoristas destacam a falta de manutenção nos veículos, que gera insegurança no trabalho e contribui para maior frequência de acidentes. Além disso há a responsabilização dos motoristas por esses incidentes através de descontos salariais. Por fim, os trabalhadores denunciam uma série de irregularidades nos pagamentos de salários.
Novas empresas, velhos problemas
A situação do transporte público em São Carlos é crítica e seu histórico de problemas independe da empresa privada que está no contrato da concessão, desde as antigas Athenas Paulista e Suzantur. Atualmente a Sancetur, responsável pela empresa Rigras Transporte, recebe 4,1 milhões de reais em subsídio da Prefeitura Municipal. Mesmo assim ela é conhecida pela má qualidade do serviço, altas tarifas e veículos superlotados. A empresa, que pertence à família Abi Chedid, leva a acusação de priorizar o lucro sobre as condições dos trabalhadores e dos usuários.
As linhas de ônibus em São Carlos oferecem apenas acesso precário aos locais de trabalho por conta do funcionamento de um número reduzido de linhas. Ademais não há linhas fundamentais nos finais de semana, o que impede o acesso da população à cultura e ao lazer. A paralisação desta sexta-feira mostrou a insatisfação dos trabalhadores, que se organizaram de maneira independente devido à falta de diálogo do sindicato vinculado à Rigras. A revolta dos motoristas e dos usuários estão em concordância, uma vez que os problemas que têm a mesma raiz: a necessidade de priorizar o lucro da empresa em detrimento da qualidade do transporte público.
Transporte coletivo precário em todo o estado de São Paulo
Mobilizações recentes ocorreram na capital do estado de São Paulo para requisitar a diminuição do valor da tarifa e pautar o passe livre. Já foram dois atos nas últimas semanas, com centenas de pessoas nas ruas para barrar o aumento da tarifa de ônibus, Metrô e da CPTM. Entretanto, lá a repressão policial foi utilizada como forma de desmobilizar a organização popular.
A má qualidade do serviço e a constante precarização do transporte afetam diariamente motoristas e trabalhadores que são usuários do sistema de ônibus. Isso, por sua vez, coloca-se como prática de um projeto privatista no transporte público brasileiro. Por isso a reivindicação por melhores condições de trabalho, fim da dupla função e redução da tarifa são centrais na busca por um transporte público de qualidade. A estatização do transporte e a retirada do lucro como elemento determinante surgem como uma alternativa para atender a tais demandas.