“Queremos mostrar que dá e é bom fazer política de outro jeito”, diz Djalma Nery, representante do Mandato Popular Coletivo, candidatura mais votada em São Carlos.

“Queremos mostrar que dá e é bom fazer política de outro jeito”, diz Djalma Nery, representante do Mandato Popular Coletivo, candidatura mais votada em São Carlos.

07/12/2020 Off Por Equipe Tribuna

As eleições de 2020 em São Carlos foram marcadas pela alta abstenção, reeleição de Airton e a volta da esquerda à câmara de vereadores – incluindo um mandato coletivo como a candidatura mais votada.

Seguindo a tendência nacional de aumento da abstenção por conta da pandemia, 29,89% do eleitorado sãocarlense não compareceu à votação, sendo 8,87% de renúncias a mais que na eleição presidencial em 2016. A crescente do número de abstenção na cidade é tão evidente, que, em 2020, ficou bem mais alta que a média nacional, que indicou 23,14%.

O atual prefeito, Airton Garcia (PSL), foi reeleito com 48,88% dos votos, mostrando que sua estratégia de mudar de partido, com o objetivo de ter mais verba para a campanha e tempo na televisão (segundo o próprio), funcionou. No Brasil, a taxa de reeleição dos prefeitos foi a maior em 12 anos, apontando 17% a mais de reeleições do que em 2016. 

Na câmara municipal, por outro lado, tivemos a renovação de 38% das cadeiras. A maior votação foi para o Mandato Popular Coletivo (PSOL), que conquistou 3106 votos e, conjuntamente com Raquel Auxiliadora (PT), representa a volta da esquerda à câmara, ainda que de forma tímida. Novidade na cidade, os mandatos coletivos são tendência no Brasil. Esse projeto político consiste em um grupo de pessoas que determinam democraticamente, por exemplo, como serão votadas as pautas e quais leis devem ser apresentadas. 

No caso da candidatura sãocarlense, o mandato é formado por 11 pessoas. São elas: Djalma Nery, professor da rede pública estadual e representante formal do mandato; Evandro Paschoalino, mestrando em Linguística; Gabriela Garcia, cozinheira; Edneide Brasil, graduada em Ciências Biológicas e mestra em Ciências de Alimentos; Helen Catarina, graduanda em Filosofia; Caio Henrique, professor da rede pública municipal; Wesley Nascimento, graduando em Interpretação e Tradução Libras/Português; Adilson Marques, escritor e agente cultural; Dante Cieto, sociólogo e pedagogo; Ludmilla Tozetti, graduanda em Gestão e Análise Ambiental; e Lídia Moura, gestora e analista ambiental, mestra e doutoranda em Ciências.

Djalma Nery já havia se lançado candidato à vereador em 2016, quando obteve 1963 votos e foi o 8º candidato mais votado daquele ano, porém não foi eleito por não ter atingido o quociente eleitoral. Conversamos com ele para entender melhor as motivações e ideias do mandato coletivo.

 

Por que um mandato coletivo?

A gente optou por esse tipo de candidatura por ser mais representativo, democrático, plural e completo, e também por atender uma variedade maior de demandas, alcançando diferentes setores e regiões da cidade. Então, além de somar os esforços coletivos na campanha, conseguimos atender melhor e com mais legitimidade os diferentes tipos de demandas que irão surgir.

 

Quais serão os focos da legislatura?

Duas pautas principais, e que são comuns entre os membros do mandato, são a área da educação, pois temos muitos professores, e do meio ambiente. Diante disso, imagino que por uma questão de afinidade natural dos membros do grupo, essas duas áreas serão privilegiadas. Mas outras construções temáticas e territoriais vêm surgindo, como a defesa animal e o combate às enchentes. O mandato de um vereador não é um mandato temático, ele precisa atender a todas as demandas sociais que surgirem ao longo do quadriênio.

 

Vocês esperavam uma votação tão expressiva?

Todos tínhamos a expectativa de uma votação expressiva, mas eu, particularmente, fiz uma avaliação bem menor, chutei 2 mil votos. Mas as expectativas eram diferentes, houveram pessoas que esperavam por isso. Claro, ficar em primeiro lugar foi uma surpresa que coroou ainda mais esse processo. É simbólico que uma candidatura socialista, de esquerda, coletiva, do PSOL, fique em primeiro lugar. É um recado muito forte. E ficamos bem distantes do segundo colocado, com quase 800 votos de diferença. Aliás, existiu vereador que entrou com 800 votos. Numa eleição atípica, com 150 candidaturas a mais que em 2016, com pandemia e abstenção recorde, foi uma votação muito expressiva.

 

O mandato coletivo é uma forma de mais pessoas participarem diretamente da política institucional. De que outras formas é possível integrar as pessoas à política para além das eleições? 

Enxergamos essa futura experiência do mandato coletivo como uma experiência pedagógica e formativa, não só para esse grupo de 11 pessoas, mas para todo mundo que estiver próximo e acompanhando nosso trabalho. A ideia é realizar uma série de ações de consulta ao público, como assembleias em bairros. Queremos escutar as demandas e levar informações, promover essa conexão com um pé dentro e um pé fora da institucionalidade. Não separamos a atuação institucional da prática. Claro, a eleição é um momento pontual que acabou, mas o dia a dia do mandato, nos próximos anos, vai promover essa integração das pessoas, convidando elas a participar de uma outra forma de fazer política, mostrando que não é preciso ser do jeito que usualmente é, de uma forma personalista e pouco transparente. Queremos mostrar que dá e é bom fazer política de outro jeito. Iremos integrar as pessoas e fazer uma escuta ativa que se reflita na prática. 


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