“Futebol ou Futebóis?” – Coluna Vertebral

“Futebol ou Futebóis?” – Coluna Vertebral

31/07/2019 Off Por Colaborador/a

Coluna escrita por: Nathan Varotto*

O futebol figura como um esporte espetáculo com partidas arrecadando valores acima dos seis dígitos, há muito capital envolvido em uma partida, desde os patrocínios estampados nos uniformes até o campeonato “X” que tem uma empresa por trás e tem seu nome divulgado. Podemos dar o nome para este tipo de futebol de esportivo-competitivo.

Sugiro que façamos reflexões acerca do que chamamos hoje de futebol, pois há só esta possibilidade de futebol? O futebol só teve inicio com os ingleses?

Começamos pela palavra “Futebol”, trata-se de uma palavra incorporada ao vernáculo português. Originalmente é uma palavra de origem inglesa, pois “foot” significa “pé” e “ball” significa “bola”, nesse ínterim a tradução literal seria “bola nos pés”, mas ocorreu a famosa “portuguesação” da palavra e reconhecemos tal jogo como futebol.

Há relatos de que na china, muito antes de os ingleses sistematizarem o jogo com a bola nos pés e chamarem de “football”, pessoas já utilizavam os pés para brincar com a bola, nesse sentido, a prática de utilizar os pés na bola é muito antiga.

Considerando o escrito acima, pode-se dizer que não existe só uma possibilidade para o futebol, há outras. Por exemplo, “Fútbol Callejero” criado em um bairro empobrecido de Moreno, Buenos Aires, Argentina. É um jogo que utiliza o futebol.

São três tempos, meninas e meninos jogam juntos/as, não há árbitro/a e sim um/a mediador/a. No primeiro tempo as pessoas constroem as regras do jogo, no segundo a bola rola a partir das regras construídas no primeiro tempo e no terceiro tempo, as pessoas dialogam sobre a partida, tudo balizado por pilares como respeito, cooperação e solidariedade.

Outra peculiaridade deste jogo é que o gol não é determinante de vitória, há um sistema de pontos. Se uma equipe faz 10 gols e a outra 0, esses 10 gols viram 3 pontos e o 0 gol, se tornam 2 pontos (Vale ressaltar que esses pontos também podem ser acordados no início do primeiro tempo, sempre tendo em vista a equidade no valor atribuído aos pontos). Os pilares (respeito, cooperação e solidariedade) também são pontuados, geralmente 3 pontos para cada.

O terceiro tempo é marcado pelo diálogo, se uma equipe/pessoa respeitou a outra, cooperou com a outra e se solidarizou com a outra. Se não houve respeito, cooperação e solidariedade ou ainda outros quesitos, será posto em diálogo, o/a mediadora atua para que seja reservado o direito de posicionamento de todos e todas e que se chegue a um consenso do que fora dialogado.

Este jogo é uma alternativa educativa, pois o futebol esportivo-competitivo fica devendo no quesito educação, o que se vê são pessoas se desrespeitando e isso sendo transmitido pela televisão a um sem número, principalmente, de crianças que se espelham e tomam como exemplo essas pessoas.

Faz-se necessário pensar o futebol como uma alternativa para a educação, ou seja, um educar pelo movimento, pois um movimento diz mais do que mil palavras.

Por fim, há de considerarmos que não é possível apenas um futebol e sim pensarmos em futebóis, pois existem diferentes maneiras de se jogar a bola com os pés.

*Nathan é graduado em Educação Física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar (PPGE/UFSCar)