É o frio que congela e mata nas ruas de São Carlos?
08/07/2019Texto escrito pelo leitor/a
José Maria
A chuva e a frente fria chegam em São Carlos. Como consequência, tivemos uma das noites mais frias do ano, com indicativos de sensação térmica de 2°C, ou até menos em alguns pontos da cidade.
Nas ruas de São Carlos, pessoas em situação de rua procuram maneiras de se proteger do tempo, ou simplesmente rezam para a sorte, para não morrerem de hipotermia. Neste ano, dia 30 de maio, já foi contabilizada uma morte causada pelo frio de uma pessoa em situação de rua no centro de São Carlos.
E aqui questionamos: é o frio que congela e mata nas ruas de São Carlos?
Sempre que o frio chega, entidades e movimentos sociais, pastorais, entre outros, organizam campanhas de agasalho e oferecem espaços de abrigo para as pessoas em situação de rua. São essas ajudas e esses trabalhos voluntários que evitam que mais pessoas tenham que enfrentar extremo sofrimento e a morte por hipotermia.
O trabalho desses grupos é valoroso! Porém, precisamos, para além de ajudar, nos indagar: por que existem pessoas em extrema vulnerabilidade, em situação de rua, encarando a morte de frente, todo inverno, nas noites frias de São Carlos? Por que tem pessoas que, quando o frio vem conseguem se agasalhar, se alimentar bem e até ter aquecedores em casa, enquanto outras pessoas nem sequer tem um teto para morar, uma comida para esquentar o corpo ou roupas para usar?
Não é o frio que mata… é a desigualdade!
A política econômica que os ricos e poderosos, isto é, as classes dominantes, aplicam no país para manterem seus lucros nesse período de crise traz a extrema miséria para a população brasileira. Hoje temos um número de 13,2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados. O número de trabalhadores que já desistiram de procurar emprego, pois não tem emprego para se procurar, já chega a quase 5 milhões. Se contarmos que esses trabalhadores e trabalhadoras têm famílias para sustentar, chegamos a uma estimativa de pelo menos 30 milhões de brasileiros relacionados à situação de desemprego.
A desigualdade urbana também se mostra traiçoeira: o Brasil tem 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis vazios. Isto é, não falta imóveis para a população brasileira, falta uma política que atenda as necessidades do povo para realizar uma reforma urbana e trazer condições mínimas de dignidade para a população, e não das imobiliárias que se aproveitam da especulação para lucrar mais, como temos acompanhado recentemente em São Carlos. É observável a qualquer pessoa que costuma transitar pela cidade que o número de moradores de rua cresceu em conjunto com o projeto político de retrocessos que está em curso no país.
E é claro que a desigualdade não se dá somente no âmbito econômico. Os setores que mais encontram-se nessa situação tem gênero, cor e sexualidade: são maioria mulheres, negros e negras e LGBT’s.
De forma ardilosa, os poderosos e as grandes mídias fazem-nos pensar que é o frio que é um perigo para o povo brasileiro, que é o frio que vem trazer a morte. Mas pelo contrário, é o interesse desses poderosos em perpetuar a desigualdade que mata nosso povo pelas ruas.
É necessário repensar o sistema político, econômico e social que vivemos: queremos que o frio, devido à desigualdade, traga hipotermia, sofrimento e morte para nosso povo? Ou queremos que o frio seja só um motivo para vestirmos agasalhos?
Quem mata é o capitalismo, articulado com suas estruturas machistas, racistas e lgbtfóbicas.