Alunos da USP e UFSCar passam por dificuldades nas moradias estudantis durante a pandemia

Alunos da USP e UFSCar passam por dificuldades nas moradias estudantis durante a pandemia

21/04/2020 Off Por Editorial Tribuna São Carlense

Os estudantes da USP e UFSCar que residem nos alojamentos estudantis  relatam uma série de dificuldades apresentadas durante o período da pandemia, em sua maioria resultado do descaso que tais universidades já manifestavam pelos alunos bolsistas e pela permanência estudantil. Os problemas relatados envolvem desde a impossibilidade em manter o isolamento social, devido às estruturas das moradias estudantis, até na dificuldade de garantir alimentação de qualidade para todos os estudantes.

Beatriz Guerra, estudante e moradora do alojamento da UFSCar, esclareceu ao Tribuna São Carlense sobre o fornecimento de refeições. Segundo ela, com a interrupção dos trabalhos do Restaurante Universitário, os alunos passaram a receber kits individuais com alimentos in natura. No entanto, os alimentos não eram sempre os mesmos para todos os alunos, com porções e diversidade de produtos desiguais, bem como insuficientes para uma nutrição básica de qualidade. ”Isso era um fator que causava aglomeração também, você ir cedo para pegar um kit bom”, comentou a estudante. Com o risco de contaminação durante tais aglomerações a saída buscada pela direção da Universidade foi a de oferecer um auxílio mensal de 365 reais a ser depositado numa conta corrente aberta por cada aluno. Os estudantes que não possuíam conta em seu nome ou mesmo não conseguiram abrir uma a tempo, ainda não receberam o auxílio em dinheiro, nem mesmo o kit alimentação, que deixou de ser distribuído.

Os alunos da USP passam por situações parecidas. Segundo Victor Uriel, morador do alojamento estudantil do CAASO, “desde o início da quarentena na USP (17/03), o bandejão começou a servir marmitas para evitar a aglomeração de pessoas. Essa é a melhor opção paras pessoas da permanência, se for bem executada. O que estava tendo problema é que as marmitas estavam com uma qualidade péssima, o que foi reclamado para a empresa responsável”. Nos finais de semana, dias em que o Restaurante Universitário não funciona, a prefeitura do campus se organizou para distribuir alimentos para preparo no alojamento. Apesar da boa iniciativa, a comida, que não é distribuída individualmente, precisa ser carregada por um grupo grande de pessoas e preparada por muitos alunos ao mesmo tempo, gerando aglomerações.

Victor também disse que, apesar da falta de estrutura e organização, a administração do campus mostra boa vontade e cooperação com a autogestão do alojamento estudantil. O mesmo acontece na UFSCar com profissionais da administração, que demonstram interesse em solucionar alguns dos problemas dos estudantes, mas não conseguem propor medidas que realmente resolvam e melhorem a condição da moradia para o período da quarentena. Os alunos também aguardam até o momento por uma resposta sobre o  não recebimento e atraso do auxílio.

Sobre as medidas de prevenção adotadas, a Autogestão do alojamento da USP organizou uma série de orientações de precaução, como evitar o trânsito entre blocos, proibição de visita de não moradores, entre outras, com direito a punição segundo o estatuto do alojamento em casos de indisciplina. A prefeitura do campus também forneceu água sanitária para desinfecção. Já na UFSCar, poucas medidas preventivas estão sendo de fato seguidas e acompanhadas, além disso receberam apenas uma vez o kit semanal com materiais de limpeza prometidos pela administração da Universidade. No entanto, a direção da UFSCar instalou dispositivos com álcool em gel em todos os andares, que já acabaram e não foram repostos. Também vacinaram todos os estudantes contra a gripe.

Ambas moradias carecem de internet de qualidade, problema já conhecido pelos moradores dos alojamentos estudantis. Os alunos relataram a dificuldade em acessar a internet dentro das suas próprias casas e quartos, o que atrapalha a continuidade dos seus estudos e atividades pessoais, bem como impossibilita o exercício das atividades profissionais daqueles alunos que precisam trabalhar em casa durante a quarentena.

Por fim, é importante lembrar que a situação dos estudantes são carlenses apenas reflete uma situação que é generalizada em toda a cidade e país, devido a falta de atenção que a maior parte das autoridades e representantes do povo tem dado às necessidades dos trabalhadores. Não é por acaso que grande parte do suprimento dessas necessidades acontece na própria organização popular e através de brigadas de solidariedade.

Na própria USP, por exemplo, é evidente o descaso com os trabalhadores terceirizados do restaurante, portaria e limpeza (você pode encontrar mais informações sobre essa situação na página do Alojamento USP).

Por todos esses motivos, o Tribuna São Carlense se compromete a noticiar, na medida do possível e nas condições de isolamento, uma série de reportagens para acompanhar e investigar a situação de grupos sociais mais vulneráveis do município durante a pandemia do COVID-19.


Gostou dessa matéria? Contribua com o jornalismo popular na cidade: https://tribunasaocarlense.com.br/financiamento-coletivo/