Grupos se mobilizam em brigadas de solidariedade para ajudar populares

Grupos se mobilizam em brigadas de solidariedade para ajudar populares

01/05/2020 Off Por Equipe Tribuna

Desde que os primeiros casos suspeitos de COVID-19 foram confirmados na cidade, diversos grupos se reuniram para ajudar a população pobre e periférica da cidade. Foi assim que surgiram brigadas de solidariedade como o Saída Coletiva, o Quarentena Sem Fome, além de outros grupos na cidade que se mobilizaram como a Confra Social e o CO-LAB São Carlos.

As brigadas são a forma de auxílio que a própria população da cidade encontrou para se ajudar durante a quarentena. Eles arrecadam itens básicos e materiais de proteção individual e levam às famílias pobres, aos trabalhadores desempregados e as pessoas que perderam sua renda por conta da pandemia, além de pessoas dos grupos de risco.

Falamos um pouco com pessoas ligadas às brigadas que explicaram como surgiu cada iniciativa e como podem ser feitas as doações.

Quarentena Sem Fome

A Quarentena Sem Fome é uma brigada de solidariedade que surgiu da iniciativa de um grupo de cidadãos e que possibilita à famílias e comunidades manterem-se supridas durante o período de quarentena. Marcelo Fernández, que participa da brigada, disse que “ela veio da necessidade que temos de organizar a população neste momento, já que as ações do governo (municipal, estadual e federal) estão muito abaixo do necessário”. A brigada recolhe doações e contribuições em dinheiro e depois leva até as pessoas que precisam.

O estudante de arquitetura também explicou o porquê da iniciativa. “Quem não é rico sabe que a imensa maioria da população tem que ‘matar um leão’ por dia para poder colocar comida na mesa e até mesmo para conseguir trabalhar. Hoje em dia os governantes estão cada vez mais ausentes e deixando a população cada vez mais de lado. É só ver a situação das escolas, restaurantes populares e até mesmo das ruas esburacadas para perceber isso. Agora, durante a pandemia de COVID-19, isso fica ainda mais grave!”.

No momento, a brigada de solidariedade está priorizando ajudar as famílias do Acampamento 3 de Janeiro. “Priorizamos comunidades organizadas por ser mais eficiente a alocação das doações e possibilitar um bom levantamento das demandas de cada família, mas também atendemos casos particulares quando são urgentes. Caso você faça parte de alguma comunidade não pense duas vezes em nos chamar que iremos fazer o possível para atendê-los!”, falou Marcelo.

A Quarentena Sem Fome está recebendo doações físicas nos bairros Boa Vista 1, Cidade Jardim, Jardim Brasil, Jardim Cruzeiro do Sul e Vila Nery, além de receber doações em dinheiro via transferência bancária. Para quem quiser contribuir e precisar de maiores informações, como endereço para entrega de doações e dados da conta bancária, entrem em contato pela página da brigada: www.facebook.com/oficialquarentenasemfome.

Marcelo também criticou as medidas que vêm sendo adotadas pelos governantes do país. Ele disse que “os governantes, sejam eles da cidade, estado ou país, têm como obrigação possibilitar que todas famílias consigam ficar de quarentena e que, caso adoeçam, tenham acesso à saúde de qualidade. Para isso, o básico é que as famílias recebam auxílios e tenham suas dívidas suspensas enquanto essa situação durar. Por exemplo, a prefeitura poderia anular a cobrança de água e luz durante esses meses (como muitos países fizeram) para os trabalhadores não se endividarem. Também seria necessário aumentar o auxílio alimentação das famílias, e uma medida simples para isso seria organizar e comprar dos pequenos produtores e distribuir para a população mais necessitada. Assim, os pequenos produtores conseguiriam manter a sua renda e as famílias da cidade não passariam fome”.

O estudante também parabenizou as universidades públicas da cidade por estarem contribuindo com a produção de equipamentos para os hospitais da cidade. “Com isso cumpre muito bem o papel de universidade pública ao retornar diretamente para a população aquilo que é investido nela. Também devemos parabenizar os vários profissionais da saúde que estão na linha de frente dessa batalha e praticamente fazendo ‘das tripas o coração’ para poder atender à população são-carlense.

E aproveitou para cobrar medidas mais firmes. “A prefeitura e demais instâncias do governo deveria disponibilizar para os funcionários da saúde – na verdade para todos aqueles que fazem parte dos serviços essenciais – equipamentos de proteção adequados e oferecer salários dignos com jornada de trabalho adequada”.

Saída Coletiva

O Saída Coletiva nasceu do encontro de 5 mulheres que são educadoras, entre a rede pública e informais, e que tiveram preocupação com a rede de conhecidos que sabiam que ficariam com a renda total ou parcialmente comprometida devido ao isolamento social. O coletivo aceita doações de alimentos, de materiais de higiene e limpeza e dinheiro, para garantir um suporte financeiro em situações emergenciais para famílias que necessitam.

Gabriela Nunes, integrante do coletivo, disse que “nos preocupamos para que a iniciativa não ficasse como um caráter de caridade, que pressupõe uma hierarquia, mas sim uma relação de solidariedade, por saber exatamente como essa situação pode causar um cenário de precarização muito intensa e em bem pouco tempo”. Falou também que “nós não vamos conseguir resolver os problemas estruturais de desigualdade, nossos esforços nesses momento são de tentar garantir uma quarentena digna”.

Existem dois pontos de arrecadação do coletivo na cidade que são na Rua Santa Cruz, 673 Centreville (16 98136-3455) e na Rua Jesuíno de Arruda, 3546, Ap. 5, Jardim Brasil (16 99114-9200).

“No começo estávamos fazendo campanha com quem já tínhamos contato […], só que conforme aumentamos a divulgação para a arrecadação, a gente também conseguiu alcançar outras localidades”. O Saída Coletiva está ajudando quem pede auxílio independente da localidade da cidade. Inclusive estão articulando ações com o Quarentena Sem Fome.

Sobre as medidas da Prefeitura, Gabriela falou dos números disponibilizados pela Assistência Social, porém disse que muitas famílias não conseguiram o contato. “No geral garantir o fechamento do comércio, uma das medidas para manter a quarentena,acho que isso é tranquilo, mas a assistência é bem precária. Há bem pouco tempo eles disponibilizaram a merenda pros estudantes da rede municipal de educação, mas ainda sim tem diversos territórios, diversas famílias que necessitam”. 

Gabriela também criticou os problemas da cidade que são anteriores a quarentena. “No  geral, garantir o fechamento do comércio não essencial é um movimento importante por parte da Prefeitura, mas a assistência social é precária. Então os problemas que já eram anteriores a isso, e os problemas que são perpetuados a muito tempo vão continuar, a gente não consegue dar assistência. E a gente percebe que é isso, a cidade se vende como cidade da tecnologia, de vanguarda, mas tem alguns territórios, algumas localidades e algumas populações totalmente abandonadas. O que é muito triste de se ver, e pra gente é gratificante poder chegar de alguma forma a essas famílias, contribuindo para que elas possam minimamente se manter seguras dentro de suas casas”. Ela ainda deu o exemplo da cidade de Araraquara que “tem disponibilizado atendimento por telefone para mulheres em situação de violência doméstica inclusive com suporte para denúncias, tem atendimento telefone para atendimento psicológico e nossa cidade, mesmo sendo amplamente conhecida por conta das universidades, não têm esses serviços disponibilizados. Me preocupa mesmo em pensar o que está sendo priorizado nesse momento pela gestão e por vereadores pensando em suas carreiras políticas, haja vista que este é ano eleitoral.”

Elas também estão aceitando doações para a seguinte conta: 

CONTA PARA DEPÓSITO/TRANSFERÊNCIA:
Banco 260 – Nubank Pagamentos S.A
Ag: 0001 C/C: 38293665-4
Janaina M. G. Cunha
CPF: 420.880.528.52

Maiores informações podem ser encontradas na página do coletivo: https://www.facebook.com/saidacoletivasaocarlossp/

Confra Social

A Confraria Cristã é uma instituição religiosa, da vertente protestante, e a partir dela um grupo de pessoas criou uma rede social chamada Confra Social. O Confra Social busca analisar os os problemas na cidade e ajudando as pessoas, independente das suas crenças religiosas.

Segundo um dos representantes do grupo, Samuel Caetano Alvarez, as ações de solidariedade tem “um papel muito importante, na verdade acho que esse é o momento dessas instituições entrarem em ação”. Samuel disse que “o que a gente tem visto é uma galera desesperada, sem ter o que fazer, sem ter pra onde correr, por vários motivos. Como profissionais autônomos que não podem trabalhar, pessoas que perderam emprego e pessoas que nunca tiveram emprego, todo mundo é atingido nessa época de pandemia”. E reforça que é “extremamente necessário que hajam essas instituições, que hajam pessoas dispostas a se doar pelo outro, e isso também contribui com uma sociedade melhor”.

A Confra Social criou uma rede solidária durante a pandemia e trabalha com famílias em situação de vulnerabilidade. Eles cadastram essas famílias e sempre que necessitam entregam cestas básicas para elas. Além disso tem a ação chamada “Report” que conta histórias de pessoas e projetos que necessitam de ajuda em meio a pandemia, transformando em material audiovisual e doando para essas pessoas usarem como divulgação.

O Confra Social não tem um caráter político, porém pelo que o próprio Samuel disse estar vendo, a Prefeitura tem seguido as recomendações mundiais e não está cedendo na reabertura do comércio na cidade. Para quem quiser ajudar as ações da Confra Social, pode fazer pelo site (www.confrariacrista.com.br/redesolidaria/), onde estão descritos todas ações e pessoas que receberam ajuda. As famílias que necessitarem de cestas básicas podem pedir pelo número (16)991607321. Só é necessário se cadastrar pelo número, porém há uma lista de espera devido à alta demanda de pessoas necessitadas.

Ciência em prol da população

Há ainda uma iniciativa que parte das universidades da cidade, em especial do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP), da USP – São Carlos. O CO-LAB São Carlos é uma plataforma colaborativa “para aproximar pessoas interessadas em contribuir com cidadãos e instituições que necessitam de algum tipo de ajuda, no cenário de enfrentamento do COVID-19 na cidade de São Carlos e região”, ou seja, eles não prestam serviços, mas ajudam a tornar visível a rede de solidariedade existente na cidade para que ela cresça.

A ideia surgiu a partir de professores, pós-graduandos e funcionários do setor de TI da USP. O CO-LAB não foca apenas em itens básicos, mas também em atuações de educação, cultura, ciência e tecnologia e saúde. A iniciativa presta apoio jurídico, faz doações de equipamentos de proteção individual e também tem um cadastro de desenvolvimento de tecnologias de baixo custo para o enfrentamento ao COVID-19.

Segundo o professor do IAU e colaborador do projeto, David Sperling, “as ações solidárias têm um papel fundamental de articulação e complementaridade com as ações públicas, criando uma rede capilarizada de atuação. Sabemos que todos estão sujeitos a serem infectados em um cenário de epidemia, no entanto, há fatores sócio-econômicos que são definidores da preponderância de perfis nos casos de óbitos. Portanto, não podemos falar apenas de co-morbidades fisiológicas. As maiores co-morbidades no Brasil são as sociais. As redes de solidariedade podem e devem atuar para achatar essa curva.”

O CO-LAB São Carlos funciona como uma ponte entre quem precisa de algum item básico e quem está fazendo doações. “Estamos recebendo cadastros, assim como, na medida do possível, estamos entrando em contato com pessoas que estão a frente de ações, e com instituições, para que se cadastrem”, disse David.

Sobre as ações que a Prefeitura vem tomando diante da pandemia, David disse que vê “medidas acertadas, e outras nem tanto. Vemos o esforço de manter um boletim informativo diário do estágio da epidemia na cidade, assim como a construção de um hospital de campanha. Por outro lado, estudos epidemiológicos mostram que estamos apenas no início do processo, e o nível de isolamento social está aquém do necessário. A disputa declarada, desde a esfera federal, entre saúde e economia é falsa. É óbvio que todo cidadão deveria ter seu direito à saúde resguardado, assim como ter também garantido o direito à subsistência. Diante dessa falsa falta de perspectiva, sobra ‘o cada um por si’, principalmente aos mais vulneráveis e aos setores da economia informal.   Em termos epidemiológicos, não é adequada a abertura do comércio nesse momento, medida que vem sendo pressionada por setores do empresariado. A capacidade de leitos na cidade é muito limitada e o ritmo de contágio é exponencial. Isso significa que em pouco tempo o sistema de saúde poderá entrar em colapso.” Quem quiser contribuir com a iniciativa pode acessar o site e se cadastrar para doar e/ou receber ajuda. O endereço do site é: www.iau.usp.br/colab.

Outras iniciativas

Há ainda outros grupos voluntários que estão se reunindo para tentar ajudar o maior número possível de pessoas. Desde grupos que entregam marmitas para moradores de até grupos que estão confeccionando aventais e máscaras para ajudar profissionais da área da saúde.


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